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Artigo de Opinião

Professor

13/02/2023 08:00

Haveria muito a dizer sobre cada elogio ali proferido. O panegírico transpirava mais a política do que a religião. Para isso teríamos de revisitar a verdadeira história política e partidária de Machico, teríamos de desconstruir mitos e narrativas dominantes. Teríamos de trazer à colação cenas de bastidores, desmontar ardis bem montados ou falar dos atores por detrás das máscaras. Nada disso agora vale a pena. Até porque tudo se resume a uma única coisa. Política. E, em política, cada um acredita naquilo que quer. Há sempre um olhar diferente, uma razão, uma justificação para tudo. E quem tem unhas é que toca guitarra.

Mas foi a candura da senhora Rosa Viveiros que mais me impressionou. Aquela aparente ingenuidade, aquela convicção, aquela fé, aquela íntima certeza que lhe enche a alma e fá-la debitar em chão sagrado, sem temor: "ele abriu tantas estradas".

Se Rosa Viveiros estivesse a falar no sentido figurado. Se quisesse colocar a questão em termos intelectuais ou espirituais. Se fossem caminhos ou estradas alternativas para a fé ou para a política, até faria algum sentido. Mas não. A mulher referia-se a vias de comunicação, a estradas municipais. Referia-se à dimensão do trabalho autárquico do Padre Martins. E isso, não. Não pode passar em claro. Nessa narrativa não se deve embarcar.

Sem desprimor pelo trabalho de cada autarca de Machico, temos de colocar as coisas no seu devido lugar. Bem sei que a própria comunicação social ajudou a empolar o trabalho de oposição que Machico fazia ao Funchal, ao Governo Regional, ao Alberto João. É certo que os media e a elite intelectual da esquerda madeirense se deixou inebriar pela peculiaridade da personagem e pela mossa política que nem eles próprios conseguiam infligir ao PSD Madeira. Por isso certos mitos se foram perpetuando.

Mas a verdade é que a obra física, autárquica, do Padre Martins foi pobre. Reduzida à abertura de alguns caminhos que invariavelmente não tinham projeto e acabavam por ficar em terra batida. Nunca quis avançar com estradas em contrato-programa com o Governo Regional. Interessava apenas a vitimização. A Câmara foi apenas mais um palco-altar dos seus ideais políticos, do culto da sua personalidade.

Ao contrário, o seu irmão Bernardo Martins que lhe sucedeu, justiça seja feita, por não concordar com esse modo de gerir a Câmara, quando chegou à presidência, quis avançar com os contratos-programa e começou a lançar obras, muitas delas depois acabadas pelo PSD. Foi o caso do quartel dos bombeiros, da remodelação do mercado municipal, da sede da Junta de Freguesia, da estrada de ligação do cais à Misericórdia, da rede de esgotos, de marginais à ribeira, enfim, um conjunto de obras em todo o concelho que merecem referência.

O Padre Martins não. Abriu rasgos de lameiro que mais tarde outros compuseram em caminho ou estrada e construiu o pequeno troço junto à Igreja da Ribeira Seca ao qual deu o nome de D. Martinho da Costa Lopes, uma figura da Igreja de Timor, sem qualquer ligação a Machico. Sabe-se lá porquê.

Por isso, a senhora Rosa Viveiros é mais uma vítima de muitos equívocos. Se fosse só pelo Padre Martins, o povo de Deus da Ribeira Seca ainda hoje teria de andar de botas no lameiro deste inverno.

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