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Artigo de Opinião

23/04/2022 08:01

Nesse dia, há quase 48 anos deu-se uma rotura no tempo histórico. Propositadamente não escrevo o tempo histórico português, porque as implicações vão muito para além de Portugal, afetam a história de outros povos e países, na Europa, na África, na Ásia, na verdade, afetou a História Global.

Com o 25 de Abril, inicia-se a descolonização, o fim da mais longa ocupação colonial europeia em África que durou cinco séculos, anuncia-se o fim da guerra que mais sangrou Portugal, e começa a queda, "de facto", de um dos últimos impérios europeus, que terminaria, "de jure", ao longo dos 18 meses seguintes.

Mas para Portugal marca o início (ainda que um pouco atribulado) o seu regresso ao lado dos países que defendem o Estado de Direito, a Ordem Constitucional e a Ordem Internacional. Foi um golpe militar que conseguiu envolver civis desde praticamente o seu início. Foi o começo brusco de uma transição, por vezes atribulada, para uma democracia muito nova para a maior parte da população, uma democracia de tentativa-e-erro, uma democracia de muitas vias, de muitos caminhos e alguns becos sem saída, uma democracia de grandes esperanças e pequenas desilusões pontuais.

Em Portugal, o 25 de Abril é o início uma espécie de democracia em direto: com imprevistos e muita emoção à mistura, mas que desde essa madrugada nunca cessou de tentar aperfeiçoar-se e de dar resposta aos desafios que encontra.

Podemos avaliar a vontade latente de participação política do povo português pelo surgimento de novos partidos: Nos primeiros dois anos apareceram 20 partidos, quase todos com pretensões de inscrição no espaço político da esquerda. Desses, seis subsistem até hoje, dos quais três se deslocaram para o espetro ideológico do centro-direita ou direita.

Todos tentaram responder ao que, provavelmente, é o maior desafio que Abril nos trouxe: A Liberdade, devolver a voz a todos os cidadãos portugueses e dá-la pela primeira vez (pelo menos para a grande maioria) às cidadãs portuguesas, uma voz que nos permita expressar e concretizar o futuro que sonhamos para nós e para as nossas famílias.

Democratizar não é fácil. Implica consciencializar as pessoas para que sejam exigentes relativamente aos seus deveres, mas também responsáveis no cumprimento dos seus deveres. Na verdade, todos os direitos dependem do dever de outra(s) entidade(s), seja o Estado, uma empresa, outras pessoas. E como lembrou Luís Osório, esta semana, nas Jornadas Parlamentares do PS-Madeira na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, o direito à Liberdade no seu sentido coletivo de toda a população, depende sempre de abdicarmos de alguma da nossa Liberdade individual.

No entanto, a Democracia e a Liberdade não são eternas. Precisam de vigilância, de ser alimentadas e de uma corrida constante por parte de todas e todos nós para não sairmos do lugar. Se pararmos, por pouco tempo que seja, corremos o risco de sermos ultrapassados por quem acha que a sua liberdade ou os seus direitos de exercer o poder, em nosso nome, são mais importantes do que nós.

Estou a exagerar? Então veja-se o que acontecerá já na próxima segunda-feira no Funchal: A Câmara Municipal do Funchal decidiu comemorar o 25 de abril com dois momentos musicais e uma conversa intergeracional entre cinco pessoas (e, aposto, com um pequeno discurso do edil), mas retirando a voz aos partidos eleitos como representantes e porta-vozes das mulheres e homens funchalenses.

Não querem políticos no dia da Liberdade, ainda que não haja nada mais político do que a Liberdade. E não pode haver Liberdade quando não se dá a palavra a quem o povo elegeu para falar em seu nome.

É hora de começarmos a correr outra vez, sob pena de não irmos a tempo.

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