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Artigo de Opinião

22/05/2025 00:00

O título deste artigo ouvi-o da boca do escritor Valter Hugo Mãe.

Na minha “Bucket list” estava um desejo antigo: estar com a minha escritora favorita.

Com viagem marcada para Lisboa, para assistir à bênção das fitas da minha filha, recebi, como prenda do Dia da Mãe, a possibilidade de assistir à apresentação do recente livro da Isabel, com a presença da própria — e logo num dia em que eu lá estaria.

A Isabel diria que foi o destino. Esta escritora acompanhou-me ao longo de toda a minha vida adulta. É tão especial que até parece fazer parte da minha família. O meu primeiro livro dela, A Casa dos Espíritos, foi-me oferecido por uma prima, com um aviso sobre os riscos de emprestar livros. Ironia do destino: esse exemplar ficou esquecido em casa de alguém durante 20 anos. Já tinha comprado outro quando finalmente mo devolveram.

Estive com a Isabel no domingo, no CCB, e adorei.

Aos 82 anos, assume que escrever é a vida dela. Começou a escrever através de cartas que enviava ao avô doente. Essas cartas deram origem a A Casa dos Espíritos.

Adorei a Paula, que descrevo como uma carta de amor à filha. E A Soma dos Dias, que conta a história da sua família. No domingo, confessou que estes são os livros mais difíceis de escrever:

— “É mais difícil escrever memórias, porque tenho de escrever a verdade. E a verdade é um abismo.”

Mulheres da Minha Alma é uma declaração da feminista que a Isabel é. Questionou o facto de ainda haver mulheres e homens que têm vergonha de se assumirem como feministas. O filho dela é feminista. Disse mesmo:

— “Temos de lutar pelos direitos, porque podemos perdê-los em cinco minutos.”

A Isabel continua a escrever livros com personagens masculinas e femininas. Agora há um novo fenómeno: os livros romantasy, onde as mulheres se apaixonam por iguanas, extraterrestres e outros seres. A brincar, questionou o que se passa com os homens para surgirem estas personagens a substituí-los nas histórias de amor.

Ela sabe que é mais lida por mulheres do que por homens:

— “É muito fácil investigar sobre a guerra, mas tudo é escrito por homens, e nunca pelos derrotados ou pelas mulheres. Nada se escreve sobre as mulheres que levavam água e cozinhavam nos campos de batalha — que, para mim, são personagens importantes.”

Os livros da Isabel são sobre mulheres fortes — talvez para dar voz àquelas que não aparecem nos nossos livros de História. Em muitos dos seus livros, imortalizou mulheres que passaram pela sua vida, como a mãe, com quem trocou mais de 24 mil cartas.

— “Se houvesse um incêndio em casa, salvava as cartas, depois o cão e, no fim, o marido.”

É descrita como uma otimista racional. Já vendeu mais de 85 milhões de livros em todo o mundo.

— “Os meus livros têm sucesso em tantos países porque escrevo sobre emoções, relações. As relações humanas são iguais. Só mudam algumas coisas específicas, culturalmente.”

Sobre a situação atual do mundo, relembra episódios retratados nos seus livros, onde, antes de ditaduras, alguns presidentes se suicidaram.

Os bons democratas desistiram — e os maus, os ditadores, entraram?

Se, segundo ela, — “As semelhanças que nos unem são muito mais do que as diferenças que nos separam”, então o que se passa no mundo é responsabilidade de todos nós.

O que temos andado a fazer para que partidos compostos, na maioria, por homens autoritários estejam a receber tantos votos?

Será por isso que, nos romantasy, os homens estão a ser substituídos por iguanas?

“Vejo o futuro como a história: um pêndulo. Nunca estou desesperada, porque acredito que a humanidade é progressiva. Tudo muda.” — Isabel Allende

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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