O Ensino Superior é, por natureza, um espaço de crescimento, de aquisição de conhecimentos e competências, e de construção de uma identidade pessoal e profissional. Noticiado recentemente pelo Público, há, porém, uma nova realidade inquietante: os estudantes estão a pagar um preço demasiado elevado pela experiência académica. Num contexto em que 25% dos alunos relatam sintomas de depressão ou ansiedade e quase metade dorme menos de oito horas durante a semana, impõe-se uma reflexão: será este o Ensino Superior que queremos?
O sucesso académico e a produtividade são frequentemente destacados como objetivos a alcançar a qualquer custo. Contudo, como se pode observar, a saúde mental e o bem-estar físico estão a ser descurados. A pressão para atingir resultados, combinada com as dificuldades financeiras, a indisponibilidade e a insalubridade do alojamento e a dificuldade em conciliar estudo com trabalho, está a levar os estudantes a testar os seus próprios limites. Estes fatores não só comprometem a sua qualidade de vida como também a capacidade de aprendizagem do estudante e a qualidade do ensino superior.
A privação de sono, apontada como um problema em quase metade dos estudantes, não é um fenómeno isolado. O sono é essencial para consolidação da memória, equilíbrio emocional e regulação do stress. Quando os estudantes sacrificam o descanso para cumprirem prazos ou para estudar para exames, criam um círculo vicioso. Dormem menos, menos se concentram no estudo e, consequentemente, menor a sua capacidade de aprender de forma eficaz. Este problema, muitas vezes ignorado, afeta diretamente o desempenho académico e a saúde a longo prazo. São estes os profissionais do futuro?
Depressão e ansiedade são transtornos clínicos que diagnosticam um grande desafio do ensino superior, é a falta de apoio adequado aos estudantes. Apesar de serem cada vez mais frequentes os programas de apoio psicológico nas universidades, a procura supera amplamente os recursos disponíveis. Além disso, a normalização do sofrimento — frequentemente interpretado como forma de amadurecimento do futuro profissional— perpetua a ideia de que é aceitável negligenciar a saúde mental em prol de um diploma.
Este cenário exige uma transformação profunda no sistema de ensino superior em Portugal. Temos que repensar urgentemente o equilíbrio entre as exigências académicas e a promoção de um ambiente saudável e inclusivo. É fundamental integrar programas regulares nas instituições que promovam competências de gestão do stress, higiene do sono e literacia emocional, ao mesmo tempo que se investe em recursos de apoio psicológico, como equipas multidisciplinares e soluções tecnológicas para apoiar estudantes em situações de crise. Adicionalmente, é necessário promover maior flexibilidade curricular, com horários ajustáveis e métodos de ensino que não sobrecarreguem os alunos, bem como garantir condições básicas de vida, como alojamento acessível e apoio financeiro adequado, para que os estudantes não tenham de escolher entre estudar e sobreviver.
A questão que permanece é simples: queremos um ensino superior que forme profissionais exaustos e emocionalmente desgastados ou cidadãos completos, capazes de contribuir para uma sociedade equilibrada e saudável? Fica o alerta para que se abra uma oportunidade para agir. Ignorar o problema é perpetuar a negligência dos mais valiosos intervenientes no futuro do nosso país: os estudantes.
O Ensino Superior deve ser mais do que um desafio académico. Deve ser um espaço de desenvolvimento humano, onde o sucesso não seja medido apenas por notas ou diplomas, mas também pela saúde e bem-estar de quem nele participa. Afinal, não é isso que todos desejamos?