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Artigo de Opinião

GATEIRA PARA A DIÁSPORA

18/11/2025 08:00

Este mês, com poucos dias de diferença, celebrou-se o meu aniversário, o dia do Armistício, e o décimo aniversário dos atentados em Paris - na sala de espetáculos Bataclan, no estádio de França, onde Portugal ganhou o Campeonato Europeu de Futebol masculino em 2016, e nas esplanadas parisienses.

Por uma conjugação de fatores, passámos o meu aniversário em Dijon, a capital da Borgonha. A cidade foi uma muito bonita descoberta, com uma mistura de arquitetura medieval, senhorial, como o imponente Palácio dos Duques da Borgonha, e contemporânea - por exemplo, o museu desenhado por Shigeru Ban, Le Consortium, que deu vida a uma antiga fábrica e se tornou um polo de arte contemporânea. A cidade tem uma dimensão humana, muito dada a deambulações e, por conseguinte, a descobertas: por exemplo, aprender a importância que o engenheiro Henry Darcy teve nas obras hidráulicas na cidade onde, ainda na primeira metade do séc. XIX, já todos os andares de todos os imóveis da urbe tinham água potável, a segunda cidade europeia a fazê-lo depois de Roma, representando um grande avanço para a salubridade pública e legando ao mundo a ainda hoje utilizada lei de Darcy. Os pátios interiores de algumas casas senhoriais — senhores que, muitos deles, eram deputados ao então Parlamento da Borgonha — são pequenas maravilhas. A história de Portugal também se cruza com a da Borgonha dado o casamento de D. Isabel, Infanta de Portugal, — irmã do Infante D. Henrique e filha de D. João I, Mestre de Avis — com o duque da Borgonha, Filipe III, o Bom, por volta de 1430.

Uma das coisas que nos levou a Dijon, além do contexto vinícola, gastronómico e cultural, foi a amizade de Vieira da Silva com o casal de colecionadores Kathleen e Pierre Granville, que estiveram na origem da coleção de arte moderna dos museus de Dijon. Quando faleceram, legaram a sua coleção — incluindo quadros de Vieira da Silva e de Arpad Szenes — à cidade de Dijon, que podem ver-se no museu de Belas Artes, numa das alas do Palácio dos Duques. Chegar à sala onde vimos o Urbi et Orbi da artista foi qualquer coisa de inefável, e garanto-vos que, daquele quadro, se via Daca. Na manhã em que escrevo este artigo, chega-me a informação de que a anterior primeira-ministra bengalesa, Sheikh Hasina, foi condenada à morte devido à violenta repressão sobre as violentas manifestações lideradas pelos estudantes em 2024.

Este ano, o dia do Armistício celebrado em 11 de novembro, foi dedicado aos incorporados à força da Alsácia e da Lorena (França), homens e mulheres que foram obrigados a lutar pelo exército alemão durante a ocupação destes dois territórios pela Alemanha, sobretudo durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. A minha filha mais nova, Clara, está agora a estudar a Primeira Guerra Mundial. Ontem, à mesa numa aldeia alsaciana, o tio-avô Remy explicou-nos como o seu avô da Moselle, então parte do Império Alemão, cumpriu o seu serviço militar de 1912 a 1914, mas que devido ao início da Grande Guerra, teve de combater, tendo sido feito prisioneiro pelos Japoneses em Tsingtao, um porto chinês, conhecido atualmente pela sua cerveja, e só voltaria a casa em 1919. Após a Segunda Guerra Mundial, os denominados malgré-nous, incorporados contra a sua vontade pelo exército alemão, foram acusados de terem traído a França, e durante muito tempo foi um assunto tabu e continua a ser um assunto sensível.

Dois dias depois, comemorava-se o 10.º aniversário dos atentados em Paris. Houve vários atos de humanidade e amor que se fizeram sentir durante essa fatídica noite como as primeiras forças de autoridade a chegar ao local que enfrentaram fanáticos de metralhadora e cinturas explosivas com armas de pequeno calibre e o seu denodo, de pessoas que saíram da segurança das suas casas para ajudar quem necessitava, de quem abriu as portas da sua casa para que estranhos se pudessem abrigar, e uma palavra de grande apreço às muitas concierges portuguesas — e de outras nacionalidades —, alvos de tantos estereótipos, que abriram as portas dos edifícios de que tomavam conta, não perguntando a quem necessitava de abrigo qual era a sua origem. «Venez, venez» (venham, venham).

Por último, está a decorrer a COP 30, a Conferência do Clima das Nações Unidas, em Belém, capital do Pará (Brasil) e às portas da Amazónia. As populações indígenas e representantes da sociedade civil de vários países reivindicam uma solução para elas e por elas. No dia 15 de novembro, houve uma grande Marcha dos Povos pelo Clima. Continuemos a marcha e acompanhemos a muito interessante cobertura em sumauma.com, jornalismo do centro do mundo.

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