Os últimos dois anos foram muito difíceis não apenas para os agentes culturais, mas também para quem tem a responsabilidade de apoiar a organizar, fazendo da cultura um vetor de desenvolvimento e uma importante parte de um projeto integrado de dinamização de um concelho.
Há muito que a cultura deixou de ser um setor estanque nas suas dinâmicas internas, para passar a ser uma parte relevante de um modelo de desenvolvimento integrado, que sem a cultura perde muita da sua alma e propósito.
Acredito que a cultura deve integrar toda uma estratégia de progresso, e que pode e deve ser um elemento catalisador de toda uma dinâmica de desenvolvimento.
A cultura agrega, desde logo, três polos que devem balizar todo e qualquer projeto: a identidade, a história e a contemporaneidade.
Sem uma valorização da identidade não há projeto que se sustenha, na medida em que todos os projetos devem rever e rever-se na comunidade em que estão inseridos. Não podemos, desta forma, criar modelos fora daquela que é a identidade de uma localidade e do seu povo, sob pena de estarmos a gerar dinâmicas artificiais que nunca serão absorvidas por aqueles a quem elas se dirigem.
Por outro lado, nada pode ser construído sem os ensinamentos da história e sem a memória capaz de nos situar no presente, com alicerces e aprendizagens capazes de projetar um modelo sustentado de futuro, porque agregador do que fomos e, nesse sentido, do que queremos vir a ser.
Por último, nenhum projeto consciente da sua identidade e história, pode deixar de acolher, a todo o momento, as novas dinâmicas, as novas ideias, e os novos valores.
Para que uma estratégia cultural se assuma como vetor de desenvolvimento e investimento, todas estas vertentes têm de ser valorizadas e complementadas em projetos concretos que olham e valorizam o passado e, ao mesmo tempo, que valorizam e incorporam o futuro.
Desde 2013, que a política cultural em Santa Cruz se tem balizado por todas estas dinâmicas, que se realizam em projetos concretos que têm feito a ligação entre a tradição e a contemporaneidade e que, sobretudo, têm sabido congregar as diversas formas de cultura como catalisadoras de um projeto de desenvolvimento.
O Santa Faz 2022 surgiu, assim, como a retoma desta filosofia e deste diálogo entre passado, presente e futuro. O evento teve ainda a particularidade relevante de ter ocorrido num local onde o investimento em reabilitação urbana correspondeu a essa ideia de cultura como ponte entre identidade, história e contemporaneidade.
O Largo da Achada é a simbiose perfeita desta filosofia, porque na intervenção ali operada se valorizou a história, se intensificou a identidade, ao mesmo tempo que se criou um espaço moderno, com novas dinâmicas arquitetónicas e com um foco na qualidade dos espaços de fruição pública.
Penso que não seria possível inaugurar esta retoma cultural num melhor espaço, porque o Santa Faz 2022 correspondeu, com a sua programação, ao espaço que corporiza essa dinâmica, unindo assim, toda uma filosofia estrutural e cultural numa simbiose perfeita.