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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

20/08/2023 08:00

A investidura dos Cavaleiros do Santo Sepulcro, é uma mistura de rito religioso e guerreiro, conserva um certo colorido da Idade Média.

A cerimónia atual, para os que a ele assistem, ainda se utiliza o mesmo ritual da época das cruzadas, ma com algumas modificações. Os textos ainda conservam um registo de combate, ao oferecer a espada que vai consagrar o novo candidato Cavaleiro do Santo Sepulcro ao ler estas palavras: "USA-A EM DEFESA DA SANTA IGREJA DE DEUS E DE VÓS MESMO, ASSIM COMO TAMBÉM DOS INIMIGOS DA CRUZ DE CRISTO E CUIDA NÃO FERIR NINGUÉM INJUSTAMENTE COM ELA."

Hoje, estas palavras têm um valor de símbolo, ninguém pensa em conquistar Jerusalém pelas armas, tem uma missão espiritual a cumprir em relação com a terra santa e que o culto do Santo Sepulcro esteve ligado ao valor dos cruzados.

Quando estudava em Jerusalém Sagrada Escritura na École Biblique, assisti ao príncipe D. Carlos de Bragança e Coburgo, com a sua esposa e a sua sogra, na Basílica do Santo Sepulcro, pedir de joelhos o hábito de Cavaleiro do Santo Sepulcro. D. Carlos é descendente direto do imperador do Brasil, D. Pedro II. Ele visitou durante vários dias os Lugares Santos. Nesta ocasião reuniu a pequena colónia de portugueses da cidade santa, entre os quais me encontrava também eu, tendo uma fotografia dessa data sido publicada na Revista Franciscana Terra Santa, do mês de maio de 1962.

A Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém foi no passado uma instituição de monges cavaleiros e de cavaleiros monges. É a mais antiga das Ordens religioso-militares, a primeira das honoríficas que, passado o seu tempo histórico antigo não tem obrigações monásticas. Não é uma "guarda suíça" do Santo Sepulcro, como a do Vaticano, embora durante mais de vinte anos os suíços desempenhassem este serviço. A Ordem equestre do Santo Sepulcro foi fundada durante o Reino latino de Jerusalém, foi criada para fazer a escolta do Túmulo de Jesus Cristo. Os seus membros hoje, fazem reviver em forma moderna o espírito e o ideal das cruzadas, com a arma da fé, do apostolado e da caridade.

Os últimos Estatutos, foram promulgados pelo Papa Pio XII em 1949, estabelece os fins da Ordem: Ela faz reviver em forma moderna o espírito e o ideal das cruzadas, com as armas da fé e propõe-se promover a prática da vida cristã entre os seus membros; propagar a fé na Palestina, subvencionando instituições de caráter apostólico, caritativo, cultural e social; defender os Direitos da Igreja Católica na Terra Santa.

A Ordem é dirigida por um Cardeal que exerce as funções de Grão-Mestre, nomeado pelo Papa. O Patriarca Latino de Jerusalém tem o grau de Grão-Prior. A sede central da Ordem está em Roma, a histórica em Jerusalém. A esta Ordem podem ser admitidas pessoas dos dois sexos, sempre que reúnam as condições exigidas pelos estatutos.

As origens da Ordem não são bem conhecidas, alguns supõem que o fundador teria sido São Tiago Menor, Bispo de Jerusalém, atribuindo a fundação ao imperador Constantino de Constantinopla. Alguns historiadores dizem que estaria vinculada aos cónegos do Santo Sepulcro, que estabeleceu Godofredo de Buillon, em 1099, ano em que o Patriarca de Jerusalém, Arnaldo de Rodas, reuniu em 1122 a comunidade com a regra de Santo Agostinho, sendo aprovada mais tarde pelo Papa Celestino II em 1122.

Para além dos Cavaleiros do Santo Sepulcro, existiam duas categorias de auxiliares na Basílica, os "guardas" ou custódios do Santo Sepulcro e os "homens de armas".

Um autor muçulmano, comentando a retirada dos latinos, ao serem expulsos de Jerusalém, escreve:" As lágrimas caiam dos seus olhos como as chuvas desciam das nuvens". O abandono da Ordem religiosa militar, significava a perda da sua missão. Entretanto os peregrinos sentiam a sua falta, após uma viagem atormentada, sabemos que o número destes peregrinos que retornavam à Europa, era muito reduzido. Alguns deles foram armados de cavaleiros do Santo Sepulcro. O primeiro a ser armado foi o Conde Adolfo de Holstein-Schawemburg em 1197. Recebeu o hábito das mãos dos sacerdotes e dos diáconos que habitavam no Santo Sepulcro. Mais tarde, este direito de admissão passou para o Custódio da Terra Santa, que era o superior dos frades menores.

Os últimos Estatutos foram promulgados pelo Papa Pio XII, contém 45 artigos e dá à Ordem Equestre do Santo Sepulcro uma organização universal, que não perde o espírito da tradição e adapta-se aos tempos atuais.

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