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Artigo de Opinião

Advogada

27/10/2022 08:00

Bruma foi uma cadela daquela raça, que tivemos durante treze anos e foi a mais especial de sempre, que aí descrevi.

Bruma deixou um vácuo canino por preencher, que por muito estimados tenham sido os que se seguiram, seria sempre…Bruma. Como esta veio dos Açores e finalmente coloquei lá os rojetes este Verão, deu-me para procurar criadores da raça na ilha, só naquela…

Ora, aquela acabou me levando para o continente e da generalidade para o norte, e do norte para Vila do Conde e daí para uma saga, que só não se torna epopeia porque não tenho muito jeito para textos poéticos.

Procurei ninhadas e encontrei, reservei aquela que mais se parecia com a Bruma, tendo sido batizada, desde logo, homonimamente, fui recebendo fotografias e tratando das burocracias, entre as quais um Passaporte que a TAP exigiu para trazê-la para a Madeira, este país independente, tropical e abençoado por Deus, em que também se fala com sotaque. Somos todos filhos da mesma nação valente, TAP, mais um detalhe a corrigir pela companhia de bandeira, só mais um.

Após completar as exigidas dez semanas de vida, três mil vacinas e o dito passaporte, marquei a minha viagem para o Porto, no dia 8 de agosto, segunda-feira. Os meus pais não faziam ideia, afinal a cadela seria surpresa para eles. Marquei ida de manhã e regresso à noite, seria um dia "em cheio" e, como foi… Sem que me avisassem, só porque consultei a APP TAP, verifiquei que a passagem da cadela, que me custou 145 euros extra o balúrdio que gastei na minha, em discount, só porque em cima da hora e que prefiro não lembrar, estava cancelada. Começou a saga, no total foram mais de três horas ao telefone com a companhia aérea. Afinal o voo de regresso não estava preparado para transportar animais no porão e, mesmo com dois meses, a bichinha já pesava treze kgs, não podia ir na cabine. Chama daqui, stressa dali, consegui, contra mais pagamento ainda, ligação via Lisboa, afinal eu só ia buscar o animal…

Assim foi, à escondidas dos pais, conduzi até ao aeroporto e descolei pela manhã rumo ao Porto, lá chegada, após um pequeno almoço em duas dentadas, porque, como sabem, na TAP já não se come à borla e o que se paga é muito, fui aguardar a chegada tão esperada, enquanto recebi uma chamada do meu pai que ouvia uma tossidela ou um espirro a cada avião que descolava ou aterrava. Chegou a Bruma, qual visão do paraíso, o sorriso não voltou a sair da minha cara. Após a recepção foi tempo de fazer o check in, transportadora devidamente identificada, novas burocracias, mas desta vez muito bem atendida pelos funcionários da TAP e Groundforce, lá foi Bruminha embarcar no avião que a levaria para Lisboa, junto comigo e, mais tarde, para a Madeira. Nunca tinha feito viagens só entre aeroportos, senti-me uma hospedeira de bordo, de seres peludos.

Pelas 19 estava em solo madeirense, com dores de barriga se a cadela chegava e chegava bem. Quando a vi descer o elevador até dei pulinhos, só tinha feito chichi, linda menina!

Cá fora o dono-marido aguardava para dar assistência. Fui buscar o carro, toda feliz, botei Bruma no banco do passageiro, até sentir um cheirete: borrou-me o carro novo todo, tive de parar, limpar o melhor possível, foram unhas, antebraço, calças, tudo cagado. Tinha chegado, cheirava-me.

Em casa dos meus pais, Joãozinho, conivente, convenceu os avós a jogar às cartas para mantê-los dentro de casa, estacionei na lateral do quintal para lavar a pata perfumada e então, entrar com Bruminha ao colo. Foi a reação mais espontânea que já vi da minha mãe em muitas décadas e se quiserem vê-la, visitem o meu Facebook, publiquei ontem, porque há coisas que… só vistas.

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