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Artigo de Opinião

Gestora de Projetos Comunitários

31/05/2025 08:00

Sou mulher. Mãe. Filha. Amiga. Sou, demasiadas vezes, a única voz feminina em painéis de discussão dominados por homens. Escrevo, hoje, não movida por um qualquer impulso emocional fugaz, mas antes por imperativo ético e cívico.

Crescer enquanto mulher significa aprender, muito cedo, que a liberdade vem sempre acompanhada de cautela: andar sozinha na rua à noite é um desafio e não uma simples deslocação. Olhamos para trás ao caminhar. Levamos as chaves entre os dedos. Fingimos falar ao telefone. Apressamos o passo ao mínimo barulho estranho. Sentimos receio.

O mundo está a mudar. Assistimos, aqui e um pouco por todo o mundo, a uma perigosa normalização da misoginia, do preconceito, da violência, do assédio, ações e atitudes reforçadas por discursos populistas e redes sociais tóxicas.

O crescimento do populismo é, hoje, personificado por figuras que, por um lado, se autoproclamam defensoras de valores cristãos, mas promovem a violência étnica e racial e, por outro, por figuras que banalizam e até legitimam a violência contra as mulheres.

Estes protagonistas, que procuram menorizar o papel das mulheres na sociedade, silenciando-as, condenando-as a papéis de submissão e que ridicularizam o feminismo como histeria coletiva, são os mesmos que promovem discursos que incitam os jovens a verem as suas colegas como ‘objetos’ e não como pessoas com direitos.

O que vemos diariamente é alarmante: raparigas que se autocensuram na escolha da roupa com medo de serem alvo de comentários obscenos na escola ou, mais grave, vítimas de assédio ou abuso com vídeos publicados e partilhados, muitas vezes, por aqueles que conhece e que se escusam a denunciar o crime.

Parecemos incapazes, enquanto sociedade, de educar para o respeito por todos enquanto iguais – esta não é uma questão de género, é uma questão de direitos humanos. Deixamos que os nossos jovens aprendam com algoritmos e influencers que transformam o ódio e o desprezo pelas mulheres num modelo aspiracional de masculinidade. O discurso que grassa no tik tok, instagram e outras plataformas está assente em máximas como “o lugar da tua namorada é em casa”, reduzindo estas raparigas a uma posição de submissão – raparigas, essas, que permitem quando acenam e sorriem como resposta a estes comentários, sem contrariar.

A misoginia não é um fenómeno marginal, é estrutural, institucional e, mais grave ainda, é agora amplificada por estes protagonistas que se escudam na ‘liberdade de expressão’ para perpetuar o ódio. Não pactuemos com a perpetuação da violência.

Ensinem às vossas filhas que não devem deixar-se menorizar ou objetificar para agradar a quem quer que seja. Ensinem aos vossos filhos que as raparigas têm os mesmos direitos e devem ser respeitadas, que um ‘não’ é mesmo um ‘não’.

Mudemos aquilo que não podemos aceitar. Não podemos aceitar que as nossas filhas, irmãs, amigas, cresçam a pensar que o respeito é um privilégio e não um direito inalienável. Não podemos aceitar que a violência se normalize nos comentários de uma publicação na internet ou nas piadas de um programa de entretenimento. Não podemos aceitar o assédio por medo a sermos despedidas. Não podemos aceitar que o espaço público continue a ser hostil às mulheres que ousam ter voz.

Hoje, mais do que nunca, ser mulher é um ato de cidadania. Falar é um gesto de resistência. E educar para o respeito e para a dignidade humana é uma prioridade. Que possamos ser dignas das lutas das mulheres que vieram antes de nós e responsáveis pelas que ainda estão por vir.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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