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Artigo de Opinião

Farmacêutico Especialista

16/11/2022 08:00

Um casal de idosos despejado em Arroios, para construção de alojamento local, e que com os 700€ de reforma, resultado de uma vida de trabalho, não são suficientes para arranjar alojamento nesta minha cidade e na localidade de onde sou natural. Talvez por estes últimos factos senti mais profundamente a notícia, pois qualquer dos meus vizinhos de sempre poderia estar a sofrer este despejo.

Na minha conceção de cidade, e única em que acredito, só consigo conceber a minha baixa com ambiente familiar, com a padaria do sr. X, a frutaria do sr. G. e o cafezinho do sr. A.

Um bairro dentro da metrópole, onde famílias cresceram lado a lado, com os miúdos a jogar à bola nas escadas e nas ruelas, cidade viva de dentro para fora.

Este espírito colectivo bairrista de tradição e cultura, enriquecido pelas origens rurais das gerações mais antigas que se estabeleceram na cidade e criaram-na como a conhecemos hoje, o ter orgulho em pertencer a esse organismo dinâmico que é uma cidade que ajudaram a construir, uma Cidade Viva.

Não destas mortas a definhar, lindas por fora, novos edifícios e estradas novas, transportes modernos, magotes de turistas, mas vazias de pessoas de estórias, de vida… será este o futuro que queremos para as nossas cidades, núcleos museológicos amorfos em que há um duvidoso equilíbrio entre história (só nos monumentos e fachadas) e modernidade?

Será que no crescimento de uma cidade existe um limite de modernidade, que ao ser ultrapassado serve apenas de ponto de inflexão com perda de tudo o que foi construído?

Talvez sou saudosista não o nego, tenho saudades dessa minha velha Lisboa, multicultural com a riqueza dos domínios ultramarinos, em que a cidade qual grande família, acolhia os que chegavam e fazia-os sentir parte.

Existem várias visões erróneas com base em sofismas que presidem os destinos das cidades, o primeiro e capital é o crescimento contínuo, parte obviamente de uma cegueira do capital pelo capital em que não observa a qualidade de vida na cidade, mas sim interesses económicos que se alimentam indefinidamente até esgotar o recurso, depois é a renovação da cidade em termos demográficos, só com uma estratégia de fixação de jovens no centro das cidades se podem manter vivas as mesmas, se a arquitetura, a riqueza histórica o progresso e desenvolvimento urbanístico podem ser razão de visita (hoje em dia tentamos ter cidades apetecíveis para turistas), são as pessoas que criam a alma das cidades, no fundo as cidades espelham quem lá vive.
É um caminho difícil obviamente pela especulação imobiliária e pelos interesses económicos do capital pelo capital que não observam qualquer laivo de humanidade, mas apenas a cegueira do vil metal!

Se queremos cidades vivas e sustentáveis, precisamos primeiro de construi-las de dentro para fora, com base em comunhão e Paz entre os Homens, com respeito aos nossos agora idosos, e permitindo que os novos se estabeleçam reescrevendo a história da cidade viva.

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