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Artigo de Opinião

Gestora de Projetos Comunitários

Ana

9/04/2022 08:00

George Lakoff, teórico, defendia que não existe nada mais perigoso do que a categorização [a convicção de que a categoria é um conjunto de pessoas/coisas com caraterísticas comuns] para definir o nosso pensamento e construir o mundo que nos rodeia.

A criação de estereótipos permitem que se considere de maneira diferente a mesma atitude, conforme os intervenientes. Veja-se o incidente que marcou a Cerimónia dos Óscares. Não desvalorizando a bofetada, o que ali aconteceu é bem mais grave pela mensagem que transmite: a impunidade. Não podemos tolerar, aceitar, ou justificar o que se passou - não há justificação possível para a violência. Curiosamente, este episódio deu-se entre dois homens, mas a justificação alicerçou-se na defesa de honra da esposa de um dos intervenientes, como se a senhora visada não fosse capaz de se defender. Fosse a piada sobre o senhor, pergunto-me se teríamos testemunhado tal agressão. Esta dúvida surge de forma recorrente quando falamos em questões de género.

Sou de uma geração educada através dos estereótipos, que criam expectativas, reprimem ações e subjugam seres humanos. No fundo, é uma questão de poder. Poder, esse, que permitiu ao agressor da noite dos Óscares sentir que o poderia fazer, impunemente. Tanto que até recebeu o prémio sem pedir desculpas à vítima, à sua esposa, ou a todos aqueles que testemunharam este infeliz episódio.

São estes episódios que nos obrigam a repensar a forma como encaramos os papéis de género na sociedade. Falo de direitos. Direitos das mulheres e de todas as vítimas de violência. O caminho continua a ser longo.

Infelizmente, subsistem obstáculos que promovem desequilíbrios de poder que servem de base para a discriminação e para a violência - tolerância zero para a violência, para discriminações de qualquer tipo.

O que me leva a um tema que me é muito querido: o papel das mulheres na sociedade, nas nossas vidas.

É notável a importância das mulheres nas nossas vidas. Pela presença marcante, fundamental e inquestionável na vida de cada um de nós.

Este artigo, perdoe-me o leitor, não é uma simples homenagem às mulheres, mas uma homenagem muito especial a uma mulher, que partiu, mas que guardarei para sempre no coração, e que levo comigo nas minhas maiores lutas: a Ana.

A agressão que testemunhámos na Cerimónia dos Óscares fez-me lembrar a Ana, que jamais aceitaria que um homem decidisse agredir outro e usasse a sua esposa como desculpa para promover a violência.

Pôr em causa as práticas de uma sociedade patriarcal, considerando as relações de poder ainda instituídas, não é fácil. E a Ana sabia-o muito bem. Lutou pela democracia, em tempos em que "Deus, Pátria e Família" a procuravam amarrar ao lar. Lutou pela igualdade, altiva, em tempos em que era mais fácil viver de joelhos. Foi luta, quando lhe exigiam resignação. Foi coragem, quando lhe exigiram silêncio. Foi empoderamento, quando a procuraram subjugar. Todas as dinâmicas discriminatórias se resumem ao poder. A Ana combateu esse poder porque tinha o poder de mudar o mundo, um mundo de cada vez. Mudou o meu mundo e, por isso, sou quem sou hoje. Um dia disse-me "Nunca tenhas vergonha de defender aquilo em que acreditas, por seres mulher. É precisamente por seres mulher que te deves orgulhar de lutar pelos teus direitos".

Obrigada Ti'Ana. Até sempre.

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