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Artigo de Opinião

O ESPÍRITO DOS TEMPOS

24/02/2023 08:00

Após o falhanço redondo da política de apaziguamento que escancarou as portas ao avanço alemão, Churchill chegou a primeiro-ministro com a determinação absoluta de que era preciso resistir aos nazis a qualquer custo. Isto aconteceu no momento em que a Wehrmacht varria a Europa ao sabor das regras da Blitzkrieg, isolando e transformando a Inglaterra, em 1940, no último bastião da resistência e da defesa da liberdade. Perante o drama, o líder britânico soube desde cedo o quão decisivo era levantar a moral das pessoas por via da retórica inflamada e da propaganda, empolando sucessos e minimizando fracassos. Os objectivos eram diabolizar o inimigo, arregimentar combatentes para a causa, resistir, evitar os sentimentos derrotistas e manter viva a chama da esperança, esse antídoto poderosíssimo, à espera de melhores dias. Um dia, Arthur George Talbot, o capitão de mar e guerra britânico responsável pelo combate aos temerosos U-Boat, os submarinos alemães que afundavam os navios que abasteciam a Grã-Bretanha, insurgiu-se contra Churchill por ele constantemente aldrabar, nos debates na Câmara dos Comuns, as estatísticas sobre a destruição de submarinos alemães no Atlântico. Churchill, um homem de resposta pronta, não se deixou ficar e disse-lhe: "Nesta guerra, Talbot, há dois tipos de pessoas que afundam submarinos. Você afunda-os no Atlântico. Eu afundo-os na Câmara dos Comuns. O problema é que você os afunda a um ritmo que é metade do meu".

Hoje não se "afundam" submarinos no Atlântico, mas "matam-se" russos e destroem-se exércitos no Leste. Não sei se os números que Zelinsky, esse herói improvável, anuncia são verdadeiros ou momentos de propaganda, de retórica, ou do que se quiser. Mas ele continua a lutar em todos os tabuleiros desta guerra com a certeza absoluta de que o inimigo russo só parará quando for derrotado. E isso, tal como Churchill na sua época sabia e nos ensinou sobre os nazis, ninguém devia esquecer.


Sondagens - leões e gazelas

Pairou um sentimento de certa frustração por causa de uma sondagem recente publicada pelo JM sobre as intenções de voto nas eleições regionais de 2023. Essa frustração apareceu porque os resultados do exercício não mostraram uma hegemonia evidente da coligação, ou do PSD, apesar do contexto governativo dos últimos 4 anos. Claro que o mais fácil foi apontar o dedo da culpa ao elo mais fraco da coligação, o CDS, uma precipitação que atribuo mais ao romantismo do que à racionalidade.

As sondagens são o que são e cada um atribui-lhes a importância que quiser. Para uns, ainda é cedo, para outros, é bom estar à frente. Tudo certo. Mas há dados que merecem reflexão. E se podemos deixar de fora a extrapolação concelhia - 4 ou 8 respostas num local não dizem coisa nenhuma sobre o concelho - o mesmo não se pode aplicar ao panorama geral porque as eleições são disputadas em círculo único. Sendo assim, foram 400 entrevistas, 300 delas validadas, que mostraram, a esta distância, que há muito trabalho pela frente e muitos indecisivos para convencer. Mais: a reconfiguração da direita no território continental, pode alastrar à Região tornando-a potencialmente ingovernável. Confesso que esperava um pouco melhor. Porém, se alguém vislumbrava um passeio, teve aqui uma resposta: está tudo por decidir. E ainda bem.

Há um velho adágio africano que nos fala sobre um leão e uma gazela que todos os dias acordam na savana. Esse despertar vem acompanhado da ideia omnipresente de que ambos precisam, todos os dias, de fazer a mesmíssima coisa: de correr. A gazela de correr mais do que o leão para não ser comida; o leão de correr mais do que a gazela para não morrer à fome. A lição central da fábula é independente do animal porque sendo um ou outro, o fundamental é correr quando o sol aparecer. Há variadas interpretações desta história e uma delas eu colo com facilidade ao produto desta sondagem: é preciso continuar a correr. Quem parar, vai morrer.

Infelizmente, há uns quantos à espera de que outros corram por eles. Não são leões, não são gazelas, são antes as cigarras, de uma outra fábula muito conhecida, refasteladas ao sol, cantando e rindo do trabalho das formigas. Estão à espera de ver a preguiça recompensada, o que, com honestidade, nem seria nada de original. Todavia, talvez seja o momento de eliminar algumas das cigarras, verdadeiros pesos mortos, e outras ervas daninhas que estragam o jardim. Até porque se não for suficiente correr, os resultados podem ser como alguns balões: só sobem quando se larga lastro.

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