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Artigo de Opinião

Psiquiatra

8/03/2023 08:00

Qual país ditatorial, aparece a notícia que o estado vai forçar casas a serem arrendadas. Se fosse um partido de direita era fascista. Da esquerda como é que se chama? Fico sem perceber onde a coerção do usufruto de propriedades tem lugar num país democrático. Se existem propriedades que estão fora do mercado, não será prudente ajudar os donos a resolver os problemas, em vez de coagir a ação? Mas numa clara manobra a caminho da distopia de 1984 (George Orwell), apresentaram a proposta de pedir às empresas de eletricidade, água e gás, que vigiem os proprietários e que informem que casas não estão habitadas. Estamos a ir por um bom caminho...

Parece-me um abuso estatal sem precedentes. Como não há soluções rápidas para um problema complexo, vamos entrar pelas propriedades dentro e decidir pelos seus donos. Lembra-me o tempo em que as pessoas que não tinham sintomas tinham de ficar fechadas em casa com ameaças de prisão. Deve ter sido há muitos anos... Mas na altura como era para a saúde geral, não era preocupante. Agora são as casas. O que vai ser a seguir? O melhor é encomendarem já os chips de localização para nos seguirem e umas coleiras elétricas para nos domesticarem. Assim, já podem concretizar o que fazem connosco, ser nossos donos...

Durante anos ouvi dizer que o problema da política era não ter pessoas cativantes. Líderes. Essa é a razão para termos uma abstenção tão grande no país. Pois bem, nos últimos 15 anos tivemos diferentes tipos de líderes, quer na Madeira, quer no continente. Um até esteve preso. Tiveram boas percentagens de aprovação, dirigiram o país e as ilhas. Mas cada vez mais sei que não é nem a oratória de um líder, nem as pessoas que o apoiam que fazem uma boa democracia. A diversidade de liderança partilhada, a capacidade de ouvir e integrar as necessidades das várias partes, bem como fomentar a intervenção de todas as partes, são peças fundamentais para construirmos uma solução razoável para todos. Uma democracia não pode funcionar se as pessoas participam apenas de 4 em 4 anos nela.

Tive a oportunidade de ler umas entrevistas de Ai Weiwei e algumas ideias chamaram-me a atenção. A principal foi a forma como descreveu a sua evolução como pessoa e a sua necessidade de comentar e criticar os sistemas políticos. Nascido num ambiente hostil de perseguição de "o partido", para a vivência nos meios liberais capitalistas americanos e tantas outras experiências de vida. Define-se como "ultrapolítico". A vivência de realidades tão diferentes, tornou-o uma pessoa muito interessante e um pensador crítico dos sistemas atuais. Ele fez uma provocação no Público - "Temos realmente democracia? Penso que não. Não antes, não agora, talvez não no futuro".

Na minha opinião, não podemos ter uma democracia se as pessoas não participam e se não têm cultura política. Se a abstenção ronda os 40% em tantas eleições e se as pessoas apenas votam nos "escolhidos", estamos simplesmente a fomentar uma monarquia não de sangue, mas de influências. Mantemos a ilusão de escolha, mas se não há intervenção nas decisões, não há democracia. Num mundo em que os outros escolhem por nós, não somos livres de dar a nossa opinião. Tenho assistido a várias formas das pessoas serem limitadas na sua liberdade de expressão. Que democracia pode existir sem liberdade de expressão?

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