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Artigo de Opinião

9/05/2022 08:00

A minha mãe é "Cubana", nasceu nesse Portugal profundo, bem no interior da Beira Baixa na década de 40, tirou das poucas formações que as mulheres tinham acesso durante o estado novo e cedo veio para a Madeira exercer a carreira de professora primária. Sendo filha única, deixou os seus pais sozinhos, lá bem nas profundezas desse nosso Portugal pobre dos anos 60, quando o êxodo do interior tomou proporções gigantescas. Nos anos 70/80 eu e as minhas irmãs, todos os anos, durante o mês de agosto, lá rumávamos à aldeia, onde passávamos cerca de um mês com os nossos avós.

Uma aldeia pequena, servida apenas por estradas de terra, onde a ausência de água canalizada fazia com que, diariamente, a minha avó fosse à fonte buscar água, numa grande bilha que acartava com muito equilíbrio na cabeça. As velas, os candeeiros a petróleo e os mais evoluídos petromax, iluminavam as noites escuras onde a eletricidade não tinha chegado. Lembro-me bem da minha avó engomar com um ferro com brasas. As comunicações eram feitas no único telefone da aldeia na taberna/mercearia. Daqueles telefones que eram uma caixa de madeira com um bocal e uma manivela para gerar energia para efetuar a ligação.

Lembro-me da festa que foi, quando passaram a asfaltar a estrada principal. Chegou o desenvolvimento!

O Portugal profundo dos finais dos anos 70, início dos anos 80, era assim, pobre, esquecido, sem conforto.

Por cá, o nosso arquipélago era igualmente pobre, as pessoas também viviam com muita dificuldade, mas havia eletricidade em praticamente toda a ilha, as estradas estavam minimamente pavimentadas e a água corria nos canos da maioria das casas.

Tínhamos, claramente, um Portugal a diferentes velocidades. O Portugal de Lisboa e do Porto, depois vinha o restante litoral e lá bem atrás as ilhas e o interior. Éramos todos pobres, uns com mais civilização, outros nem tanto.

A revolução económica que o país teve, com a entrada na CEE em 1986, veio modernizar o país. Construíram-se estradas, a eletricidade espalhou-se, as comunicações já nem precisam de fios e acima de tudo, assistimos a grandes avanços sociais, com melhores empregos, com uma muito maior qualificação da população, com muito mais qualidade de vida.

Passados 36 anos desde que começaram a chegar os milhões da UE, também a nossa região deu um salto gigantesco, hoje vive-se claramente melhor, mas, após 46 anos de autonomia, a região passou para a cauda do país, a autonomia não soube acompanhar a velocidade que o país teve ao longo destes últimos anos. Fruto disso, hoje a Madeira é a região do país onde há maior risco de pobreza, é a região onde a maior percentagem da população empregada ganha apenas o salário mínimo, a autonomia tornou a nossa região na mais pobre do Pais. Pergunto, vale a pena esta autonomia? Uma autonomia de gritaria, de mão estendida, quando a população sofre com as dificuldades do dia a dia e do engenho que têm de ter para chegar ao fim do mês.

O fracasso da nossa autonomia tem apenas uma cor, Laranja, e apenas 2 rostos, Jardim e Albuquerque. São estes os responsáveis por, ao fim de 46 anos, conseguirem colocar a Região na cauda do país!

Mas deixemo-nos de histórias de fracasso, pois hoje é dia de festa. Hoje a minha mãe faz anos e por isso, vamos festejar.

Parabéns mãe.

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