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Artigo de Opinião

Vice-presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz

24/08/2022 08:00

Embora o livro seja mais filosófico do que político, podemos perfeitamente extrapolar esta ideia da espuma dos dias para uma análise ao discurso político e para o objetivo que o mesmo persegue de criar uma realidade alternativa e pouco profunda, porque não fundamentada, do que realmente se passa.

Este discurso impera com mais premência e assiduidade naqueles que estão na oposição. Pouco preocupados com a realidade e sem trabalho para apresentar, sustentam no discurso toda a sua atividade e fazem dele a única arma que pode realmente ser esgrimida contra os seus opositores no poder.

Podemos dizer que esta é a dialética normal da política, mas não deixa de ser perniciosa e, sobretudo, injusta para quem realmente trabalha, para quem tem de resolver problemas e para quem, porque comprometido, tem uma ação que vai muito além do discurso e que colide com ele na sua essência mais profunda.

Ou seja, de um lado temos sempre os que trabalham para lá do discurso, e os outros que pouco mais podem fazer do que praticar uma espécie de retórica vazia, muitas vezes divergente da realidade das coisas, ou mesmo assumidamente falsa, porque o discurso não tem objetivo mais profundo do que se sustentar a si mesmo e servir os interesses daqueles que o utilizam.

Neste caso, o que pode um cidadão comum fazer para se defender do discurso pouco rigoroso e não ficar vítima da tal espuma dos dias? Se sabemos que a retórica existe e que os seus perigos são reais, a única coisa que podemos fazer é ir a fundo, olhar a realidade e questionar a todo o momento se esta coincide com o discurso que sobre ela se profere.

Na maior parte das vezes, a verdade é que o discurso não tem paralelo com a realidade e vice-versa. São duas linhas que nunca se tocam, mas que coabitam com a naturalidade de quem apenas tem de falar e com a realidade de quem tem de fazer.

Desconfie-se, por isso, do discurso que pretende instaurar realidades paralelas, que pretende destruir tudo o que se faz, que pretende julgar sem contraditório e que, sobretudo, pretende dar a ideia de que nada avança, quando tudo se move e se constrói à sua volta.

Mas, como diz o povo, palavras leva-as o vento, já os atos, o trabalho, a seriedade com que se o exerce e a transparência com que se o comunica, já são coisas que estão e que ficam muito mais profundamente do que a espuma dos dias.

É preciso, por isso, treinar o ouvido, mas sobretudo treinar o olhar. E não menos importante treinar a memória, não a ter curta, para sabermos a fundo as razões e o sentido que se eleva acima do vazio.

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