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Artigo de Opinião

2/07/2022 08:30

O argumentário para a degradação do SNS, é sobejamente conhecido, com particular ênfase no tal problema estrutural, que desculpa tudo e para o qual é pedido mais tempo. Eu pergunto, quanto mais tempo? Uns podem esquecer-se, mas eu não me esqueço de que nada se fez nos últimos anos, leia-se, mandatos de governos socialistas. Muito menos podem os portugueses aceitar a desculpa da pandemia para a inércia governativa, para a falta de soluções e para este jejum anoréxico de resultados. Não existe planeamento, não existe gestão eficiente e tão pouco existe o investimento necessário. Se dúvidas houvesse é só questão de lembrar a torrente de fechos de urgências, de norte a sul do País, os milhares de escusas de responsabilidade pedidas, pelas várias classes de profissionais de saúde, e as declarações patéticas de Graça Freitas, Directora-Geral da Saúde a tempo parcial e comediante a tempo inteiro, que sugere aos portugueses não adoecerem nas férias porque é uma maçada. É caso para dizer que em boca cheia de bacalhau à brás não entra mosca.

Com os portugueses "ligados às máquinas", assistimos a um Governo que apaga fogos sem planeamento algum, porque a saída de profissionais para o privado não é novidade, a idade avançada de alguns clínicos, em áreas específicas da medicina, também não é nova, e a sede de aniquilação das parcerias público-privadas, também não causa admiração. Costa quer resolver a questão estrutural com uns pensos rápidos em ferida gangrenada, e Marcelo Rebelo de Sousa oferece uns beijinhos no dói-dói.

O aceno de 700 milhões no OE 2022 pode parecer muito, mas acreditem que vai saber a pouco. O relatório de primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde de 2022, indica que os recursos humanos aumentaram nos últimos anos, mas a produtividade não. Ou seja, temos mais profissionais e produzimos ainda menos do que antes. Não quero crer que a falta de produtividade, se justifica com os cerca de 20 médicos, acusados de falsificarem presenças em serviço. Ao que parece descobriram a receita de alguns deputados da Assembleia da República e partilhavam as palavras-chaves uns dos outros. O que sabemos é que falam em milhões e investimento na Saúde, mas, por exemplo, a promessa de atribuição de médico de família a todos os portugueses, continua a ser uma miragem para 31% de portugueses que aguardam há mais de 2 anos por essa atribuição, numa cobertura de cuidados de saúde cada vez mais precária, com graves défices no acesso aos cuidados de saúde primários, atraso de marcação de consultas, exames e cirurgias.

Em relação à dependência toxicómana de médicos e enfermeiros tarefeiros, ou prestadores de serviço, como acharem mais bonito, e que custou 142 milhões de euros ao SNS no último ano, deve ser motivo de orgulho para o Bloco de Esquerda. Neste ponto, estou de acordo com os socialistas quando dizem que o SNS não deve nada ao Bloco de Esquerda para a sua melhoria. O que surgiu para colmatar pontualmente, o aumento considerável do recurso às urgências hospitalares, é atualmente o modelo mais vantajoso para estes profissionais. Este regime de prestação de serviço é muito mais atrativo que os contratos individuais de trabalho, que para além da morosidade na contratação e da incerteza da validação por parte da tutela, permitem ganhar duas a três vezes mais, com menor responsabilidade para com a instituição contratante, uma vez que não estão sujeitos, nem à tutela hierárquica, nem respondem perante o poder disciplinar. Proponham-lhe ganhar mais e ter menos dores de cabeça, a escolha parece fácil.

Quanto à doença inominável de António Costa, que enferma o SNS, ainda há quem pergunte se ele será capaz de a estancar e corresponder às expectativas criadas. Eu pessoalmente julgo não existir a vontade e tão pouco a capacidade para isso. Entretanto, António Costa já avisou que a tal promessa de campanha, a da agenda de trabalho 4 dias, vai ficar em lista de espera.

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