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Artigo de Opinião

HISTÓRIAS DA MINHA HISTÓRIA

28/02/2025 08:00

Há algumas semanas, precisei de ir à Junta de Freguesia de uma localidade no lado oeste da ilha. Ali chegada, abordei um homem que se aproximava em enérgica caminhada com o seu cão e perguntei-lhe onde ficava o referido serviço. Mal comecei a falar, sorrindo, apressou-se a esclarecer que não falava português. Traduzi a questão para inglês, língua que ele utilizara. Em vão, não fazia ideia. Estendi o olhar pela praça e, ao dar com um restaurante aberto, dirigi-me para ele convencida de que ali, sem dúvida, me saberiam indicar o caminho. Puro engano: a jovem que lá estava também anunciou não falar português. Que desânimo! Será que este é um restaurante só para estrangeiros? Ou será que os portugueses que aqui vierem têm de pedir em inglês? Pensei, enquanto voltava à rua. Como avistei dois homens à conversa a alguma distância, fiz nova tentativa e, desta vez, sim, eram da terra e obtive resposta. Afinal estava muito perto do meu objetivo.

Regressei a casa com uma certa amargura, perguntando-me: para onde caminha a língua portuguesa? Os estrangeiros que chegam não têm urgência, não se esforçam para a aprender e queixam-se de ser difícil. O facto é que não sentem necessidade de o fazer, porque os nativos logo se adiantam, expressando-se no idioma deles, mesmo que de forma incipiente. O mesmo sucede em relação aos sons e estruturas linguísticas do português do outro lado do Atlântico. São muitos os brasileiros que vivem em Portugal e, mesmo ao fim de muitos anos de permanência, todos mantêm o seu sotaque inalterado, ao contrário dos portugueses que mal pisam solo brasileiro, ou estão na presença de alguém de lá proveniente mudam, de imediato, o modo de falar.

Os mais jovens parecem descuidados ou mesmo desdenhosos para com a própria língua e fascinados com os sons anglófonos. Talvez porque, sendo essa expressão a mais comum nos filmes, músicas, programas de televisão e jogos virtuais, falá-la contribua para que se sintam mais perto dos seus ídolos e imersos na globalização digital, o que os impulsiona a transferir esse fascínio linguístico para o seu dia-a-dia.

No mundo digital então a invasão é avassaladora. São muitos “bits” e “bytes” em “podcasts”, “chatbots”, “chats”, “mails”, “memes”, “bloggers”, “vloggers” e “influencers” em verdadeiros campeonatos de exibição de tudo e mais alguma coisa. Nem os vídeos portugueses de divulgação de livros escapam ao domínio anglófono. São “bookhauls”, sessões de “unboxing”, listas TBR (To Be Red) e muito mais. Opinam sobre o que leram, de forma ligeira, para não serem “spoilers”, ou seja, pouco reveladores sobre a trama das histórias. Também promovem reuniões periódicas de leitores, inevitavelmente, designadas “book clubs”. Podiam dizer o mesmo em português? Podiam, mas deve soar-lhes mal, e a verdade é que está cada vez mais difícil falar sem tropeçar no inglês ou sob a sua influência, até mesmo na construção de frases.

Embora crendo que a pressão nunca fosse tanta como agora, tento conformar-me com a ideia de que a adoção de termos estrangeiros é prática de todos os tempos, mantendo-os tal como na origem, ou com alguma alteração gráfica ou fonética. Depois, habituamo-nos e deixamos de estranhar a sua presença. Os nossos antepassados ilhéus até adornaram o léxico regional com algumas inovações bem criativas como: bicuaites, selampada, charape, o grade, etc. Sorrio e penso como nos afeiçoámos a elas.

O que faremos com os termos e expressões que hoje nos chegam?

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