Arrisco-me a ser repetitiva, mas há acontecimentos incontornáveis que moldam a nossa opinião sobre o mundo; a partida do Papa Francisco na manhã de segunda-feira, dia 21 de abril é um desses momentos.
Mais do que um Papa, partiu um grande homem. Grande pela sua humildade, pelo seu coração, pela atitude, pela forma livre e genuína como comunicava com o mundo.
Francisco trouxe um novo olhar à Igreja Católica! Foi capaz de abraçar temas que foram tabu para muitos durante demasiado tempo e mostrou o quão simples pode ser o amor e a fé; destacou-se com a sua humildade e ênfase na misericórdia de Deus. Com o seu exemplo, com gestos e palavras sábias e simples, aproximou povos, crenças, e lutou sempre pela paz e pela liberdade e assumiu o compromisso com o diálogo inter-religioso. Foi um defensor incansável dos direitos e da dignidade dos pobres, refugiados, migrantes e pessoas deslocadas à força em todo o mundo e manifestou-se incansavelmente em nome das vítimas da guerra e daqueles que foram forçados a fugir das suas casas.
Defendeu uma Igreja mais aberta e acolhedora, onde cabiam todos, todos, todos! Criticou abertamente o capitalismo desenfreado, o marxismo ou as versões marxistas da teologia da libertação. Francisco manteve as visões tradicionais da Igreja em relação ao aborto, casamento, ordenação de mulheres e celibato clerical. Foi um grande opositor do consumismo e apoiou ações sobre as mudanças climáticas, que foram foco do seu papado com a promulgação de ‘Laudato si’.
O Papa Francisco também foi um diplomata internacional: ajudou a restaurar temporariamente as relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba e apoiou a causa dos refugiados durante as crises migratórias da Europa e da América Central. Assumiu em 2018 uma oposição clara e vocal do neo-nacionalismo. Assumiu com frontalidade e empenho o combate aos abusos sexuais por membros do clero católico, tornando obrigatórias as denúncias, responsabilizando quem as omite, dando paz e voz a quem sofreu.
É inegável a marca que deixa no mundo e na história enquanto defensor da paz e da liberdade e para mim, é inevitável traçar um eixo paralelo desta partida com a efeméride que esta semana se assinala em Portugal, o 25 de Abril.
Na próxima sexta-feira assinala-se o 51º aniversário da Revolução dos Cravos; uma data de extrema importância na história de Portugal, que marcou o início da vida democrática no nosso país após 48 anos de ditadura. O 25 de Abril, tornou-se um símbolo de liberdade e de democracia para os portugueses, ficou gravado na memória de quem o viveu e foi uma vitória de tal importância que ganhou destaque nos livros de história para que as gerações seguintes não se esqueçam do seu valor.
O Papa Francisco também foi um defensor da liberdade, e descreveu-a como “valor essencial à dignidade humana e à plena expressão da própria humanidade”. Para ele, a liberdade, tal como a vida, é um direito humano básico e uma pedra angular de muitas sociedades.
E é impossível não recordar, neste momento de adeus, a forma como este Papa tocou corações com a sua linguagem simples, direta e profundamente humana: “Na Igreja há espaço para todos. E, quando não houver, por favor façamos com que haja. Todos, todos, todos”.