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Artigo de Opinião

HISTÓRIAS DA MINHA HISTÓRIA

3/01/2025 08:00

Ano novo, vida nova, dizemos nós, por estes dias, cheios de decisões e propósitos de abandonar os males que arrastávamos do ano, ou dos anos passados. Assinalamos esta data como marco e apresentamo-nos confiantes e esperançosos, em nós e no mundo. Após a grande euforia natalícia, em que nos ofuscamos em brilhos, luzes e foguetes, a chegada de janeiro parece parda e triste. Não é raro ver quem se apresente cansado e deprimido.

Durante a Festa, ébrios de fartura, impusemo-nos ser felizes e acreditar que tudo está bem. Contudo, acordamos a um de janeiro constatando que o que tentámos ignorar não sumiu: o ser humano não mudou; os governantes com convicções irredentistas agigantam-se e não se coíbem de massacrar e exterminar quem lhes faça frente ou esteja no terreno que julgam dever ser seu. Vemos os noticiários atuais e sentimo-nos recuar no tempo. Revemos as narrativas das conquistas de Alexandre, o Grande (356-323 a.C.) que, a partir da Macedónia, avançou pelo mundo, à cabeça do seu exército, matando, dominando, escravizando como achou por bem fazer. Diz-se que era fascinado por Aquiles, o herói quase invencível da Ilíada, obra que sempre levava consigo para onde quer que fosse. O jovem Alexandre queria igualar o seu ídolo e assim conseguiu o seu lugar na História, para uns, renomado como “O Grande”, para outros — naturalmente os seus inimigos — como “O Maldito”. Mas dos vencidos não fala a História, tal como não fala do preço humano de cada vitória.

Os ímpetos belicistas continuam a motivar governantes. Inspirados em heróis da ficção, ou nos reais que desfilaram ao longo dos séculos, almejam, por certo, garantir a imortalidade e o louvor para o seu nome na História na qual ficarão, inevitavelmente, como “Grandes” e/ou “Malditos”. As imagens de outras guerras, ainda bem recentes, que, durante décadas, conhecemos dos filmes e da literatura, de súbito, replicam-se ao vivo nos ecrãs domésticos. Tudo foi mostrado e relatado, em detalhe, para que nunca a barbárie se tornasse a repetir, dizia-se, mas ela aí está. As fronteiras que acreditámos definidas, afinal, não estão, e a urgência da sua redefinição, alicerçada em crenças e ódios milenares, faz reacender acrimónias entre povos vizinhos.

Ainda é Natal. Guerras, procuramos ignorá-las, agradecendo por estarmos longe. Calando, embora, a certeza de que, mesmo distantes, elas nos afetam. Com pasmo, vemos crescer a aceitação de uma guerra mundial, nuclear, pois claro. Como é possível?

Ouvimos advertências de que o planeta está em colapso e não nos faltam as evidências. Assustamo-nos, até pensamos que devíamos mudar. Porém, continuamos na senda do consumismo desenfreado porque isso é bom para a economia e porque ter coisas dá-nos uma grande alegria. Um padrão de felicidade que nos impõem, horas por dia, em vídeos publicitários. Uma escravidão a que nos sujeitamos se queremos assistir a qualquer programa televisivo. Este ano, até com mensagens bonitas apelando à amizade, ao amor, ao respeito pelos outros. Porque o ser humano também tem esse lado da simpatia e desejo de partilha. Na época natalícia, a solidariedade incrementa e recebe o foco dos meios de comunicação, depois volta para a sombra.

Feliz ano novo, desejamo-nos mutuamente, talvez sem saber o que, de facto, nos faz feliz. Saúde, claro. É a base imprescindível, e depois? Todos teremos uma resposta diferente. Alguns nem resposta terão. Contudo, seja o que for para si felicidade, faço votos para que a encontre em 2025.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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