A Argélia apoiou hoje a proposta da Frente Polisário para a realização de negociações “sérias e diretas com Marrocos”, sob os auspícios da ONU, para se alcançar uma “solução pacífica e duradoura” no Saara Ocidental.
O apoio foi expresso pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e Assuntos Africanos argelino, Mohamed Yeslem Beissat, que considerou também a proposta como “uma iniciativa abrangente e democrática, inspirada nas opções possíveis no quadro da descolonização e do exercício do direito à autodeterminação” sarauí.
Numa conferência de imprensa realizada na representação diplomática sarauí em Argel, e citado pela agência noticiosa local, a SPS, Beissat explicou que a proposta da Polisário é “inclusiva e democrática”.
A Argélia apoia política e financeiramente a Frente Polisário, que tem um vasto acampamento de refugiados na região de Tinduf, sul argelino e perto da fronteira com Marrocos.
A proposta, acrescentou o chefe da diplomacia argelina, é orientada pelas opções previstas no quadro da descolonização e da autodeterminação, incluindo a independência, a integração no Estado marroquino ou qualquer outra opção contemplada nas resoluções relevantes da Assembleia Geral.
Beissat acrescentou que a Polisário defende a opção da independência nacional, mas respeitará a vontade livre e soberana do povo sarauí, qualquer que seja a sua escolha, não permitindo que qualquer opção lhe seja imposta.
Sublinhou ainda que a proposta decorre das aspirações do povo sarauí, “enquanto nação africana e magrebina”, reconhecendo a necessidade urgente de acelerar a integração do Magrebe e de reforçar a cooperação regional no Norte de África, em conformidade com as aspirações dos povos da região e com a visão da União Africana.
O ministro argelino destacou também que, após 50 anos de guerras e de luta em várias frentes, a parte sarauí considera ter chegado o momento de virar a página do passado, com as suas dores e feridas, e de avançar para um futuro promissor, cheio de oportunidades de prosperidade e dignidade para as novas gerações.
Beissat enfatizou que a proposta assenta na “firme convicção de que a verdadeira paz não pode ser alcançada através de conspirações, manobras ou soluções impostas”.
“[A paz deve ser alcançada] através de um diálogo responsável, do respeito mútuo, benefícios partilhados e enfrentamento conjunto dos desafios comuns, com sabedoria, razão e sinceridade”, concluiu.
Terça-feira, num comunicado enviado à agência Lusa, a Polisário indicou ter enviado, no dia anterior, uma carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres, a dar conta da disponibilidade para iniciar negociações de paz “diretas e sérias” com Marrocos, “de boa-fé e sem condições prévias, sob os auspícios das Nações Unidas”.
Na carta, o Presidente da República Árabe Sarauí Democrática (RASD) e também secretário-geral da Polisário, Brahim Ghali, reitera a disponibilidade do movimento de libertação para alcançar uma “solução pacífica e duradoura que preveja a autodeterminação do povo sarauí”.
“A proposta tem como objetivo permitir que o povo sarauí exerça o seu direito inalienável à autodeterminação, através de um referendo supervisionado pelas Nações Unidas e pela União Africana, e expressar a disponibilidade do Estado Sarauí para negociar com o Reino de Marrocos o estabelecimento de relações estratégicas e mutuamente benéficas entre os dois países”, indica a proposta.
A carta surge, lembra a Polisário, num momento em que o Conselho de Segurança se prepara para analisar o mandato da Missão das Nações Unidas para o Referendo do Saara Ocidental (MINURSO), que termina a 31 deste mês e que, sabe a Lusa, deverá ser renovado por mais um ano.
A ex-colónia espanhola é considerada um território não autónomo em processo de descolonização, sobre o qual os sarauís pedem a realização de um referendo de independência, definido pelas partes em 1991, enquanto Marrocos defende uma maior autonomia da região sob soberania marroquina.