Mercados interno e nacional salvam hotelaria das baixas taxas de ocupação, mas enquanto a capital madeirense se fica com uma taxa de reservas na ordem dos 30%, há unidades hoteleiras em outras pontas da ilha com valores acima dos 80%.
A lidar com a pandemia, as unidades hoteleiras da Madeira contam, esta Páscoa, com os mercados interno e nacional para evitar as razias nas taxas de ocupação. Madeirenses e continentais aproveitam as mais-valias de um confinamento menos severo e as férias escolares para usufruir da hotelaria regional. Os hotéis fora da capital são os mais procurados.
A norte, a Quinta do Furão, profundamente remodelada no ano passado, é um dos destinos na moda. Pedro Costa, diretor da unidade hoteleira de quatro estrelas, admite que tem tirado partido desta circunstância e reforçado a aposta na promoção feita por jornalistas da especialidade e influencers.
"As reservas decorrem a bom ritmo dentro daquilo que é o novo normal. Nos dias anteriores e posteriores à Pascoa, contamos com muitas famílias que estão a aproveitar as férias escolares. Para o próximo fim de semana, estamos com uma taxa superior a 90% e contamos encher no fim de semana da Páscoa. Neste momento, já estamos nos 80%", diz.
Desde que a Alemanha e a Inglaterra restringiram as viagens, a Quinta do Furão tem-se valido do mercado interno, com picos de procura aos fins de semana e em festividades específicas, como os dias do Pai, de São Valentim ou da Mulher.
"Antes, o mercado alemão enchia o hotel, mas vai demorar tempo a recuperar esse segmento", refere Pedro Costa, que dá também conta da importância, neste período, de mercados como o francês, o luxemburguês e o polaco.
Também o diretor-geral do Monte Mar Palace e Estalagem do Mar assume uma melhoria nas reservas no norte da ilha, um resultado que acredita ser um reflexo da obrigatoriedade de testagem à covid-19 nas viagens para o Porto Santo e do reforço das campanhas e dos pacotes promocionais para esta altura.
"Ainda estamos a receber reservas, pelo que a taxa deve subir, mas neste momento andamos pelos 40%", afirma Eutásquio Gonçalves.
Para estes números, têm contribuído maioritariamente as famílias madeirenses e algum mercado polaco e lituano cujas operações aéreas arrancam esta semana.
Ainda assim, não obstante o aumento da procura nos meses de março e abril, alguns hotéis continuam a não ter capacidade para abrir. É o caso do Calamar, em São Vicente, que não tem data prevista para a reabertura.
"No Dia do Pai, a título de exemplo, tivemos nove quartos com o mercado local e no Dia dos namorados tivemos 58 chegadas do mercado local para uma e duas noites", observa Eric Schumann.
O administrador dos Hotéis Sentido, localizados no Caniço, espera dias melhores com a chegada dos britânicos expectavelmente a partir de 17 de maio e a retoma da Alemanha. Para já, o Galomar está com uma taxa de ocupação de 26% que espera aumentar até à Páscoa, já o Alpino Atlântico Ayurveda Cure Hotel vai estar praticamente lotado na semana das festividades pascais. Fechado continua o Galosol.
Com a Alemanha a discutir a possibilidade de quarentena dos turistas no regresso, os hotéis do Caniço têm perdido terreno para as unidades hoteleiras das ilhas Baleares. A aposta tem sido direcionada para o mercado interno e para a promoção nos media regionais.
Entre as unidades em funcionamento, o Grupo Portobay tem no Serra Golf uma das mais procuradas, a par com as Les Suites at The Cliff Bay, localizadas no Funchal.
O boutique hotel de charme, situado junto ao campo de golfe do Santo da Serra, está com uma taxa de ocupação nos 80% que vai manter na Páscoa graças sobretudo ao mercado interno e a alguma procura de âmbito nacional.
Para isso, contribuem as situações da Alemanha e do Reino Unido. Os britânicos só devem começar a chegar a partir de 17 de maio ou em junho e a retoma da Alemanha ainda é uma incógnita, prevendo-se que possa acontecer em abril.
Enquanto isso, os madeirenses e os continentais têm ajudado a manter alguma dinâmica. Bruno Freitas, CEO do Grupo Savoy Signature, lembra que a cadeia hoteleira sempre teve uma boa aceitação por parte da população regional, sobretudo no que concerne às unidades hoteleiras situadas na Calheta e ao Savoy Palace.
Com o Saccharum fechado, a procura tem-se direcionado para o Savoy Palace, com efemérides como o Dia do Pai e dos Namorados e os fins de semana a refletirem essa preferência.
Bruno Freitas nota um aumento da procura por parte dos turistas nacionais que, face às restrições em território continental, têm valorizado muito a qualidade dos serviços hoteleiros regionais.
Para esta Páscoa, a taxa de ocupação está nos 30%, mas as reservas devem subir, tendo por base o comportamento das famílias madeirenses e dos turistas nacionais.
Também António Trindade, presidente e CEO dos PortoBay Hotels & Resorts, reconhece o aumento do fluxo de turistas nacionais, ainda que as taxas de ocupação estejam muito longe dos valores pré-pandemia.
O The Cliff Bay está com valores na casa dos 35% e o Porto Mare nos 25%. Curiosamente, a unidade mais cara do Grupo - Les Suites at The Cliff Bay - tem passado incólume à pandemia, refere António Trindade, com ocupações muito boas.
"Há um segmento nacional que ia para o Brasil e para as Seychelles e que encontrou aqui um produto que corresponde às suas expectativas", explica.
Estes níveis positivos de procura refletem-se igualmente nos restaurantes Il Basilico e Avista, resultado também da criação da Academia Gastronómica PortoBay.
No caso do Caju Le Petit Hotel, do Grupo Divine Hotels Collection, a procura é sustentada pelos franceses, alemães e britânicos. A unidade hoteleira está com uma taxa de ocupação nos 13% e prevê mantê-la em abril.
Em junho, o hotel The Vine reabre portas, contando já com uma taxa de ocupação de 16%, que deve subir, refere Gonçalo Henriques, administrador do Divine Hotels Collection, uma vez que as reservas, na atual conjuntura, são feitas com menos antecedência.
Em situação idêntica está o Castanheiro Boutique Hotel, com uma taxa de ocupação nos 22% e a contar com o regresso dos estrangeiros do mercado nacional. Francisco Correia, sócio e diretor dos hotéis Terrace Mar e Castanheiro Boutique Hotel, lembra que os madeirenses preferem fazer férias fora do Funchal, pelo que o mercado interno não se reflete na procura por estas unidades hoteleiras.
Por Patrícia Gaspar