A Casa da Cultura de Câmara de Lobos acolheu ontem um espetáculo singular que uniu literatura, teatro e música eletrónica, no âmbito da 1.ª edição do Festival Internacional de Violino da Madeira. A sessão contou com a presença do vereador da Cultura da Câmara Municipal, Nuno Neves, que destacou a importância de iniciativas que aproximam o público da criação literária portuguesa através de formatos contemporâneos.
Em palco esteve “A Passagem de Horas – Álvaro de Campos”, um monólogo inspirado na obra do heterónimo futurista de Fernando Pessoa, interpretado pelo ator Nelson Cabral, figura destacada no panorama artístico nacional e internacional. Natural de Ponta Delgada, nos Açores, Cabral possui formação em Teatro – ramo Atores, pela ESMAE, no Porto, e uma carreira iniciada nos anos 1990, marcada por colaborações com várias companhias de referência, como o Teatro da Garagem, Teatro da Cornucópia, Artistas Unidos ou a Seiva Trupe.
No audiovisual, o ator soma participações em séries e novelas reconhecidas do público português, como Médico de Família, Anjo Selvagem, Ouro Verde, Vidas Opostas e, mais recentemente, Rabo de Peixe, da Netflix. No cinema, integrou elencos de filmes como Cortejar a Ilha e O Livreiro de Santiago.
Segundo a organização, tratou-se de um espetáculo inédito no país, no qual o artista criou e executou ao vivo peças de música eletrónica que dialogavam diretamente com a recitação contínua da obra de Pessoa. O resultado foi um monólogo imersivo que explorou a intensidade emocional e a fragmentação identitária características de Álvaro de Campos, aproximando o público da pulsação inquieta que marca a escrita do heterónimo.
A proposta destacou-se ainda pela simbiose entre música eletrónica e música clássica, com momentos acompanhados por guitarra e violino, criando uma atmosfera cénica que reforçou os contrastes e ritmos internos do texto pessoano.
O espetáculo insere-se na programação do Festival Internacional de Violino da Madeira, organizado pela Associação Proeza Altruísta com o apoio da Secretaria Regional de Turismo, Ambiente e Cultura. A iniciativa pretende afirmar a Madeira como um território fértil para experiências que cruzam diferentes linguagens artísticas, dando espaço a propostas que renovam a relação do público com a literatura portuguesa.