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UMAR Madeira alerta para falhas na resposta à violência doméstica

Data de publicação
22 Dezembro 2025
14:29

A União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) Madeira manifestou hoje frustração e revolta perante o desfecho do caso do bombeiro de Machico, afastado da corporação após ter sido divulgado um vídeo em que agride a mulher na presença do filho, mas que deverá retomar funções como motorista noutro departamento da Câmara Municipal.

Em declarações à rádio JMFM, numa reação à notícia que dá conta da suspensão do processo após a vítima ter perdoado o agressor, Joana Martins, coordenadora da UMAR Madeira, sublinhou que se trata de um caso “extremamente frustrante”, tanto pela dimensão mediática como pela exposição de uma criança que também foi vítima de violência no contexto familiar.

“Sabemos que muitas vezes as mulheres que já sofrem violência há algum tempo acabam por acreditar que o agressor vai mudar, que aquilo não se vai repetir”, afirmou, referindo-se ao chamado ciclo da violência. Apesar de a vítima ter indicado que se tratou da primeira agressão, Joana Martins garante que “não foi assim” e que já existiam episódios anteriores.

A responsável apontou ainda para mecanismos de manipulação por parte dos agressores, incluindo promessas de mudança ou de tratamento, como no caso do alcoolismo, salientando que “a prevenção da violência é antes da violência acontecer e não agora”. Segundo Joana Martins, os programas aplicados após as agressões “não são assim tão eficazes como isso”, o que contribui para que as vítimas permaneçam presas ao ciclo de violência.

Para a UMAR Madeira, é essencial um trabalho mais profundo e continuado com as vítimas de violência doméstica, focado no empoderamento, na autoestima e na capacidade de procurar ajuda. “Não vamos mudar a mentalidade de uma pessoa que foi vítima de violência do dia para a noite. Isto implica muitos meios e muito tempo”, frisou.

Joana Martins mostrou-se particularmente crítica quanto ao facto de o processo ter sido suspenso após a retirada da queixa, lembrando que a violência doméstica é um crime público. “Aqui, pelo facto de a vítima retirar a queixa, o processo cai e isto para nós é extremamente frustrante”, disse, acrescentando que deveria existir uma maior salvaguarda do interesse da criança envolvida, para evitar a repetição da situação.

Questionada sobre a possibilidade de ter havido pressão sobre a vítima, admitiu que essa hipótese não pode ser excluída. “Pode haver pressão por parte do agressor, por parte da família do agressor, ou resultar das razões que já enunciei anteriormente”, afirmou, sublinhando, no entanto, que não é possível saber ao certo o que motivou a decisão.

A coordenadora da UMAR Madeira defendeu que o sistema de justiça deveria dispor de outros mecanismos de atuação nestes casos. “Devia ser feito algo mais neste sentido, porque senão estes casos repetem-se”, alertou, referindo também que o contexto de uma “terra pequena” pode agravar a pressão social sobre as vítimas.

Joana Martins lembrou ainda que este não é um caso isolado. “Sabemos que muitas mulheres vítimas de violência retiram a queixa quando o processo já está a avançar”, disse, reconhecendo que este episódio chama mais a atenção por envolver uma criança e pela divulgação do vídeo, mas sublinhando que situações semelhantes ocorrem “frequentemente, infelizmente”.

Para a UMAR Madeira, o desfecho do caso reforça a necessidade de apostar seriamente na prevenção da violência, tanto desde a infância como no acompanhamento de vítimas após experiências de violência, um trabalho que, segundo a associação, “não é feito com a amplitude que devia ser feito”.

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