Pelo PS, Paulo Cafôfo mostrou-se bastante crítico do discurso da extrema-direita e destacou a importância da imigração. Logo após a intervenção de Miguel Castro, do Chega, que falara na “imigração descontrolada” como um dos grandes problemas do país, o socialista rebateu a narrativa do partido de André Ventura.
No início da sua intervenção, o líder parlamentar do PS dirigiu-se aos ex-combatentes e militares de Abril que assistiam à sessão solene, afirmando que “o País está em dívida” para com estes antigos militares.
Depois, Cafôfo enalteceu a data assinalada e frisou que “a vitória no 25 de Novembro foi a consolidação e a garantia dos objetivos do próprio 25 de Abril”, destacando ainda o papel de Mário Soares, que considerou mesmo “a figura política mais relevante” dessa ocasião, ao “repôr a revolução genuína”.
“A democracia que conquistámos em 1974 não foi apenas uma mudança política, foi a libertação de um país inteiro, depois de décadas de medo, censura, corrupção e pobreza. Com falhas e imperfeições, sim, mas ainda assim o melhor que Portugal alguma vez alcançou”, realçou o deputado socialista, antes de atacar o discurso da extrema-direita, em particular do Chega e do seu líder, André Ventura.
“É inadmissível ouvir quem, da extrema-direita, ameaça este legado ao dizer que ‘seriam precisos três Salazares’, banalizando a ditadura e atacando os pilares da liberdade”, apontou Paulo Cafôfo, antes de acrescentar: “Ainda mais grave é que esse discurso venha de um líder que passa a vida a denegrir o sistema democrático, mas que não hesita em se candidatar a todos os cargos possíveis dentro desse mesmo sistema.”
Para Cafôfo, “esta contradição não é inocente”, mas sim “uma estratégia para minar a confiança pública e abrir caminho ao retrocesso”. “É por isso que devemos ser absolutamente firmes: não permitiremos que Portugal volte a ser governado pelo medo, nem por nenhum simulacro do salazarismo. A democracia é para defender, sempre”, exclamou.
Prosseguindo, Cafôfo frisou que as conquistas da democracia não são apenas para os que nasceram em Portugal, mas “também para todos aqueles que chegam de outras latitudes, trabalham, pagam impostos, constroem as nossas casas, o novo hospital e outras infraestruturas, servem os turistas, fazem com que a comida nos chegue a casa através de estafetas”.
“Os imigrantes que escolhem Portugal merecem exatamente o mesmo respeito que exigimos para os nossos quando, em tempos difíceis, tiveram de partir para a Venezuela, África do Sul, Reino Unido, Brasil ou Austrália”, vincou.
O líder do PS reforçou que “os factos são claros e desmontam por completo a narrativa de medo e a manipulação que a extrema-direita tenta vender”, apontando que “a maior mentira de todas é a de que os imigrantes são um peso e vêm para cá para receberem subsídios e apoios sociais”. “É falso”, insistiu, lembrando que, em 2024, “os imigrantes contribuíram com 3,6 mil milhões de euros para a segurança social”, e que “os valores que os imigrantes deixam nos cofres da segurança social é cinco vezes superior ao que recebem em prestações sociais”.
“Portugal não só precisa de imigrantes, como depende deles para funcionar, crescer e garantir o futuro do país”, disse, salientando que “se os imigrantes deixassem de fazer descontos, a Segurança Social perderia 12,43% das receitas, obrigando cada português a pagar mais 10,3% de contribuições”.
O socialista sublinhou ainda que, segundo dados do Ministério do Trabalho, “os trabalhadores estrangeiros financiam já o equivalente a 17% das pensões nacionais”.
Antes de concluir, Paulo Cafôfo rebateu ainda a tese de que o aumento da imigração tem levado a uma subida da criminalidade, citando também dados da Polícia Judiciária: “O rácio de estrangeiros detidos por crimes graves está entre os mais baixos dos últimos quinze anos.”
“Não há sobrerrepresentação massiva, não há explosão de criminalidade atribuída a estrangeiros. Há, isso sim, discursos que distorcem proporções para alimentar o medo”, finalizou.