O representante da República para a Madeira deixou, hoje, no discurso alusivo às comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, algumas reflexões sobre o estado do país, da Região e de problemas que afetam os portugueses.
Ireneu Barreto olhou para os cidadãos que “procuraram uma vida melhor em países que passam por graves convulsões internas”, em especial naqueles onde a diáspora madeirense é parte integrante, e que homenageou antes da cerimónia no Palácio de São Lourenço, com a deposição de flores no Monumento dos Emigrantes, “como expressão do nosso respeito, apreço e saudade”.
Neste contexto, o responsável deixou a questão pertinente: “ainda não chegou o tempo de esses emigrantes, mormente aqueles que têm interesses na Região e aqui pagam os seus impostos, contribuírem com o seu voto na eleição para a nossa Assembleia Legislativa?”
Ireneu Barreto prestou um agradecimento pela “imagem que construíram do nosso País e da nossa Região, mercê do seu trabalho e integridade”, comentando que “se todos nos orgulhamos das nossas Comunidades que se espalham pelo Globo, e representam o melhor de nós nos cinco continentes, temos também de olhar para aqueles que nos escolhem como local de acolhimento”.
Neste âmbito, o Representante da República refletiu também sobre qual a “abertura ao mundo que queremos verdadeiramente ter” e, nesse sentido, “há que reconhecer que muitos dos nossos concidadãos olham hoje para os imigrantes que afluem a Portugal com estranheza e, não raras vezes, com receio”.
Lembrando a história de quase nove séculos do país, com “mistura” de vários povos, rejeitou “discursos de medo e preconceito”, apelando, isso sim, a uma “atitude de hospitalidade e solidariedade”, sem lugar a populismos.
“O maior medo que devemos ter é o medo da ignorância, da mentira, do preconceito, da xenofobia, que são alimentados pelo populismo, que corrói a democracia tão duramente conquistada”, vincou Ireneu Barreto, lembrando a importância dos imigrantes para os desafios demográficos. “Se não queremos que o inverno demográfico se abata rapidamente sobre nós, não podemos dispensar os cidadãos imigrantes, hoje e no futuro, para que a nossa comunidade funcione e as nossas necessidades essenciais possam ter resposta. Portanto, sejamos hospitaleiros e solidários, como sempre fomos como povo”, apelou.
Por outro lado, na sua reflexão no Dia 10 de Junho, Ireneu Barreto tinha já afirmando que “em nome das próximas gerações, é urgente e imperioso continuarmos, com energia renovada, a celebrar o Portugal livre, democrático e moderno que construímos desde abril de 1974, assente na dignificação da pessoa e nas liberdades e direitos fundamentais”, apesar de reconhecer que “persistem desigualdades e injustiças que é necessário corrigir.”
Apontou ainda que a celebração do 10 de Junho na Região é “particularmente significativa, porque a realidade do nosso País não seria a mesma se não fossem as suas Regiões Autónomas. Em boa verdade, Portugal só alcançou a identidade nacional quando se libertou do acantonamento peninsular e em frágeis caravelas se fez ao Mundo, rumo a um destino maior”.