O Instituto de Florestas recorda que, caminhar na serra, não é, de modo algum, como visitar cidades.Florestas
Este ano, já perderam a vida, em atividades lúdico-desportivas em espaço florestal, duas pessoas, ambas estrangeiras: uma francesa e outra suiça.
Mas a queda de pessoas nos percursos pedestres na serra, sejam eles recomendados ou não, é frequente, sendo que, por vezes, as mazelas são bastante significativas mesmo quando as vítimas sobrevivem. Além disso, há dois estrangeiros desaparecidos nas serras, mesmo depois de vários dias de buscas, feitas por várias equipas de socorro. Um alemão, de 28 anos, desapareceu no ano passado, mais concretamente na altura do Natal, enquanto estava de férias e depois de sair para um percurso pedonal, sozinho, na Levada das 25 Fontes. Já este ano, mais concretamente, a 7 de julho, um polaco, de 35 anos, apanhou um táxi da Calheta para o Porto Moniz, para fazer uma prova de trail noturna. Nunca mais foi visto.
Dados do Serviço Regional de Proteção Civil indicam ainda que, este ano, já ocorreram 35 intervenções em percursos pedestres e levadas. Destas 35, o Corpo de Polícia Florestal participou em 24 sendo 14 relacionadas com buscas a caminhantes perdidos, que não resultaram em qualquer ferimento. Inverter o atual cenário não depende do Governo Regional, conforme afirma ao JM o presidente do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza, pois por muito investimento que seja canalizado para a manutenção das veredas e levadas, se o caminhante não for responsável e cumprir as normas de conduta e de segurança, muito dificilmente será possível garantir cenários mais promissores.
Manuel Filipe realça que a Madeira tem paisagens deslumbrantes mas esconde muitos abismos, dado o seu declive, pelo que a utilização de determinados espaços não é acessível a todos e é essa realidade que cada um terá de analisar e ser responsável na sua decisão, antes de fazer determinado percurso. O presidente do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza acrescenta que o Governo tem apostado na informação em geral para os caminhantes, sejam eles locais ou turistas. Ainda recentemente, toda a informação disponível e existente nas entradas dos percursos pedestres recomendados foi alterada e completada, dada um leque de dados importantes para o caminheiro, como a distância e o perfil topográfico do percurso.
A mesma informação, agora atualizada, possui uma série de normas e condutas de segurança, que se forem cumpridas na íntegra, reduzem em muito o risco. Ainda assim, Manuel Filipe afirma que há sempre riscos pelo que têm sido feitas várias intervenções de manutenção e de abertura de novos percursos recomendados, como é o caso do Rabaçal, onde foi criada uma rede de novos caminhos que serviram para reduzir a carga e pressão nos existentes. Manuel Filipe não vê o pagamento de coimas para quem segue os percursos não recomendados como uma solução. Em declarações ao JM, o presidente do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza explica que algumas das ocorrências, como são o exemplo de fraturas nos membros inferiores têm ocorrido em percursos recomendados. Mais do que qualquer outra medida, além das que têm sido tomadas pelo Executivo madeirense, é importante que os caminhantes tenham consciência e avaliem bem o percurso e as suas aptidões para se submeter ao esforço necessário para percorrer trilhos. “Caminhar na serra não é, de modo algum, semelhante às visitas nas cidades”, defende. Considerando que a Madeira não é diferente de outros locais do mundo, Manuel Filipe aconselha a que os seus visitantes, antes de explorarem a ilha, obtenham todas as informações necessárias nos sites oficiais [do IFCN e do Turismo] sobre o usufruto da Natureza. “Muitas vezes, ao percorrermos os trilhos, vemos caminhantes mal equipados, com roupas desaconselhadas”, realça.
Carla Ribeiro