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Amílcar Gonçalves: “Não podemos entrar no romantismo de querer reciclar tudo”

Data de publicação
29 Novembro 2024
17:00

“Água e gestão de resíduos” foi o tema que abriu os trabalhos da terceira edição do Encontro de Associações Insulares Atlânticas de Engenheiros, na parte da tarde desta sexta-feira.

O evento, a decorrer no Museu de Eletricidade “Casa da Luz”, numa organização do Fórum das Associações Insulares Atlânticas de Engenheiros (FAIA), tem estado a debater os desafios que se apresentam às regiões insulares em matéria de soluções sustentáveis na gestão da energia, da água e resíduos, mobilidade, transportes e turismo no contexto da Macaronésia.

Amílcar Gonçalves, presidente da ARM – Águas e Resíduos da Madeira, destacou os avanços na gestão de resíduos na Madeira, apresentando exemplos como a Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra, que produz 80 GWh/ano de energia, o equivalente a 5% do consumo insular.

“Produzimos energia suficiente para cobrir 5% do consumo da ilha. Este é um exemplo claro de como transformamos problemas em oportunidades”, afirmou. Além disso, destacou a Estação de Triagem e Transferência de Santa Cruz, a primeira em Portugal com triagem automática. Contudo, apontou desafios como os elevados custos logísticos resultantes da dispersão populacional e apelou a uma abordagem pragmática: “Não podemos entrar num romantismo de querer reciclar tudo. Temos de ser objetivos e seletivos, focando-nos no que é viável e sustentável.”

Rafaela Matos, antiga investigadora do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, abordou a interligação entre água, energia e turismo, destacando a necessidade de uma gestão eficiente e sustentável. “Gerir água de forma eficiente não é deixar de consumir, mas sim usar o que precisamos sem desperdício”, afirmou.

Alertou ainda para as consequências das alterações climáticas, com fenómenos extremos mais frequentes que desafiam a resiliência dos sistemas de abastecimento. “É fundamental investir em sistemas de monitorização e alerta para mitigar eventos como os que vimos recentemente em Valência.”

Defendeu a reutilização de águas residuais como uma solução eficaz para reduzir a poluição e promover a circularidade: “A reutilização é uma forma eficaz de promover a circularidade no ciclo da água e, ao mesmo tempo, reduzir a poluição das águas descartadas.” Sublinhou também o impacto das perdas nos sistemas de abastecimento, que em algumas regiões chegam a 50%, classificando esta situação como “um custo financeiro e ambiental inaceitável”.

Nas Canárias, Orlando Garcia apresentou o modelo de gestão de resíduos de Tenerife, iniciado na década de 1980, que integra triagem, compostagem e valorização energética, alcançando taxas de reciclagem superiores a 45%. “A gestão de resíduos é mais do que um serviço público. É um compromisso com as gerações futuras e com o meio ambiente que nos sustenta”, afirmou.

Luís Medina, diretor de exploração da Ecoparques, na Gran Canária, complementou a visão, destacando a necessidade de valorizar os resíduos localmente para reduzir a dependência de transporte e os custos ambientais associados. “Transportar resíduos de uma ilha para outra ou para o continente não só é financeiramente inviável, como também agrava a pegada ecológica”, alertou. Ressaltou também a importância da educação ambiental: “Educar para o ambiente é um investimento essencial. Sensibilizar as comunidades é garantir um impacto positivo no longo prazo.”

De Cabo Verde, Carlos Sousa Monteiro, bastonário dos engenheiros, apresentou a experiência da Agência Nacional de Águas, criada em 2020 para melhorar a gestão hídrica e apoiar a agricultura. Apesar dos avanços, apontou desafios como a fragmentação institucional e a necessidade de uniformizar tarifas de água.

Carlos Monteiro defendeu ações prioritárias, como a formação técnica, o investimento em infraestruturas de irrigação e a organização dos pontos de captação e distribuição. “A Agência Nacional de Águas não deve ser vista apenas como uma resposta política, mas como uma solução prática e eficiente para os desafios do país”, afirmou.

O painel sublinhou a importância da colaboração entre entidades públicas e privadas, da inovação tecnológica e da educação ambiental para superar os desafios das regiões insulares. Amílcar Gonçalves, da ARM, concluiu com um apelo à ação coletiva: “Este é um desafio coletivo. Todos temos que fazer a nossa parte para garantir que o sistema funcione e que as nossas ilhas continuem a ser exemplos de sustentabilidade.”

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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