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Artigo de Opinião

silviamariamata@gmail.com

12/03/2023 08:00

Um dia, houve sessão de escolha de cores preferidas. Estávamos todas, isto é, elas estavam todas e eu também estava lá. Uma disse que gostava da cor amarela, porque adorava rosas amarelas, outra disse que gostava de cor-de-rosa, por isto ou por aquilo, e eu pus-me a pensar de que cor eu gostava mais e atirei com "azul" para o ar. Escusado será dizer que eu não podia gostar de "azul". Pois! Uma delas já gostava de azul primeiro do que eu! Ela era mais velha, por isso eu tinha de escolher outra cor. E eu escolhi o verde! Prontos! Está resolvido e ninguém fica mal comigo! Tonta de moscas!

Um dia, eu fui a casa do tio G. visitar outras primas de quem eu gostava muito e onde me sentia muito bem! Nessa casa, vivia a única prima mais nova do que eu, do lado de minha mãe. Eu sentia uma liberdade imensa em andar com ela aos trambolhões pelos poios, no meio do coquilho de florzinhas amarelas ao vento. Depois, sossegávamos da retoiça e aprendíamos a bordar e a fazer croché na sombra do terreiro da casa! Foi num dia desses, para vergonha minha, que me deu na cabeça a pedir a tesoura a uma das minhas primas mais velhas que estava a bordar e aprontei-me a cortar as unhas à minha prima mais nova, porque, pela lógica, ela, que era mais nova do que eu, não podia ter as unhas maiores do que as minhas! Cada unha dela levava um frasco de verniz, se fosse preciso serem pintadas. Cortei-as rente e ela chorou! Minha tia veio ver o que era aquilo e não gostou daquele trabalho e disse assim às suas outras filhas "Pequenas, vocês que vigiem o que ela fez às unhas da filhinha!" Claro que elas ficaram tristes comigo! Mas que tonta de moscas!

Meu pai narrava-me cada história de tontos de moscas que era de se partir a rir! Um dia, ele contou-me que havia um homem que ia sempre à missa de manhã, antes do trabalho, mas adormecia logo no banco e não ouvia nada do que o senhor vigário dizia. Era cada bodião de cabeça para a frente e para trás que até fazia impressão. Mas que tonto de moscas! No fim da missa, ele levantava-se, benzia-se e ia à sua vida direitinho como um cirinho pela porta fora! Um dia, o senhor padre, no fim da prática, informou que a missa ia passar a ser às sete. Isso ele ouviu, porque se levantou logo e perguntou alto "Às sete da manhã ou da noite, senhor vigário?" Toda a gente riu com aquela saída dele! E ainda mais riram quando o senhor padre respondeu "Ora… A que horas quer vir para aqui dormir?"

Mas ainda há mais tontos de moscas. Nos anos 30 do século passado, no tempo de meu pai, os pequenos que não iam à escola ganhavam uns tostões acartando cestas do almoço para os homens da Fábrica de Moagem, com a condição de não as abrirem pelo caminho. Coitados dos crianços! Iam a casa do patrão, esperavam que a mulher fizesse o almoço e punham-se a correr descalços com a cesta enfiada no cajado atravessado nas costas, pelo caminho do Palheiro abaixo, para que o almoço chegasse quentinho à cidade. Um dia, na correria, um deles deu uma topada numa pedra e rebentou a cabeça do dedo grande! Em vez de chorar, exclamou "Olha lá se eu trouxesse os sapatos da missa! O que não ia ser!" Tonto de moscas!

Pior ainda foi outro, que roídinho de fome, abriu a cesta do patrão e deixou-se ficar para trás a sorver umas colheradas do almoço! Em chegando à fábrica, claro está que o patrão quis ajustar contas com ele "Tu comeste do meu almoço, seu fedelho!". O pequeno respondeu "Não senhor! Olhe, o que me vale é que eu não gosto de arroz com couve!" Tonto de moscas!

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