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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

1/03/2021 08:00

A Cultura, "(…) todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade", começa no ensino, ou seja, na escola. Mas um ensino que é muito mais do que ensinar a ler ou a escrever; é também educar a pensar e a criticar.

Durante décadas, a cultura, para muitos madeirenses, era mais que do que aquilo que aprendiam na escola. Era sim aquilo que aprendiam junto dos seus familiares, na cultura dos seus pais: na plantação de cenouras e batatas ou na criação de animais. Numa altura em que a taxa de analfabetismo era elevada e sem qualquer material didático, possuíam um suporte excecional interligado à cultura das suas gentes e dos seus hábitos, rotinas, costumes, tradições… aos seus ideais, passando de geração em geração.

Hoje em dia, é diferente. Mais depressa há interesse por um jogo ou uma série televisiva do que propriamente pela cultura. Consequentemente, torna-se visível um défice de conhecimento cultural e do nosso património - material e imaterial - junto dos jovens portugueses. Uma lacuna ainda existente, não só a nível regional, como também a nível nacional.

Devo confessar que quando era jovem, também pouco ou nada sabia do nosso património. Sim, sabia quem tinha sido o primeiro Rei de Portugal, por exemplo, ou em que ano tinha sido descoberta a Ilha da Madeira… este tipo de dados tinha conhecimento. Mas quando digo história, refiro-me também a todos aqueles momentos marcantes da nossa sociedade com repercussões significativas no quotidiano madeirense e que são hoje a nossa verdadeira essência.

À medida que ia lendo, fui percebendo como estava completamente alienada à história da minha terra. Li sobre a Revolta do leite, a Revolta da farinha, a Revolta das águas, o Regime do Estado Novo, a censura, a PIDE, a revolução de abril e o 1.º de maio na Ilha da Madeira, a colonia e as lutas de classe, os atentados da FLAMA, a luta por uma democracia, uma autonomia alcançada… palavras que a História da Madeira introduziu no seu discurso e que neste momento tendem a dissipar-se, perdendo a sua peculiaridade.

Daí questiono: que tipo de ensino e que cultura é que necessitamos? De que forma é possível integrar nos programas pedagógicos estas cargas culturais tão indispensáveis? Não será igualmente importante inovar e consciencializar os jovens da importância do nosso património cultural? A autonomia não faz parte do património madeirense?

O património cultural regional imaterial deve ser complementado no programa pedagógico das nossas escolas. Afinal, faz parte da história dos nossos avôs e de um povo revolucionário e resistente, da nossa identidade cultural. A cultura e o património cultural devem ser implementados no ensino.

A todo o momento, e por força das circunstâncias, nunca foi tão importante a defesa da nossa identidade cultural, passando forçosamente pelo respeito pelo nosso passado e da história daqueles que nos antecederam!

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