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Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

1/02/2021 08:00

Lembrei, por estes dias, uma pequena história que o meu amigo Naveed, médico Paquistanês, certo dia me contou acerca de esperança. A história de Hamid, um homem solitário que, no meio de conflitos e tormentas da fome e miséria, empreendeu uma viagem pelas áridas terras do Médio Oriente para confortar um irmão doente. Hamid não sabia o que diria, mas sabia que tinha de ir. À chegada a terra moribunda e devastada, a primeira alma que viu foi uma mulher grávida, segurando outra criança pelo braço que esbracejava e chorava. Hamid soube ali, que, mesmo sem saber como confortar o irmão, ouvira e vira subtis prenúncios de um amanhã.

Hoje, como sempre devia ter acontecido, a figura da mulher tem de ser valorizada e talvez seja tempo de Elas tomarem as rédeas do mundo. Embora talvez banalidade e ignorância minha, essa história fez-me olhar a mulher grávida como um sinal do amanhã, um sinal de que a vida seguirá e os vindouros estão "ventrelhados" à espera do seu tempo. Vivemos tempos atordoantes a vários níveis, mas nem que por um instante, se olharmos mais além, podemos ver sinais de belas manifestações da natureza. As crianças são esse amanhã.

Em jeito de desenlace e para não maçar nesta minha primeira intervenção, debruço-me sobre o património esquecido da nossa Ilha. Já contamos com 6 séculos de existência. Existem países, com a sua cultura sedimentada, que não têm esse tempo de vida. Lembro sempre o conceito de "Madeirensidade" escalpelado e fundamentado pelo Professor Paulo Rodrigues. Claro que a nossa cultura descenderá de outras, mas vejo a Madeira como um filho crescido que tomou o seu caminho e tem, em larga medida, já a sua identidade inegável. Nos últimos anos tenho investigado e reflectido acerca de património da nossa Ilha, sobretudo os trabalhos em pedra que abundam e jazem no panorama rural e paisagístico. A minha questão, em jeito de desafio, após décadas de evolução e modernização, é a seguinte: Terá espaço a Madeira para uma diferente estratégia e abordagem em relação ao património? Em lugar de construir de raiz, teremos espaço à recuperação, restauro, renaturalização, valorização das mais valias patrimoniais que nos caracterizam? Pelo que constato há largo tempo, em virtude da minha paixão de caminhante na natureza, existe oportunidade para diferentes sectores na recuperação adequada de diverso património. A título de exemplo e indo buscar o óbvio, Caminhos Reais, pontes antigas, estradas secundárias, trilhos entre outras particularidades. Terminar referindo que, como nascido ser humano nas terras altas da Camacha, folgo e agradeço de ver a atenção dada pela CM de Santa Cruz na requalificação do Largo da Achada, o coração dessa "aldeia". Espero, sinceramente, que não descaracterizem esse emblemático e mítico recanto ajardinado. Requalifiquem, mas deixem as pedras, as árvores, o ringue. Vejo esse largo como um parque de lazer ao estilo dos Países Nórdicos. Não plantem um mar de cimento em tão emblemático lugarejo.

Finalmente, uma música e um livro.

Livro: Beyond Possible de Nimsday Purja. Os 14 picos mais altos do mundo em 7 meses.

Música: Riders on the Storm dos The Doors, um clássico em homenagem a todos os que lutam para que esta tempestade se abonance.

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