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Artigo de Opinião

21/06/2023 08:00

A par da evocação de São Pedro, o Apóstolo, a festa em Câmara de Lobos regista a singularidade de celebrar a memória de São Pedro Telmo, também venerado pelos navegantes e homens do mar. A evidência da devoção a este santo é confirmada pela criação, em 1691, da Confraria do Corpo Santo, associação de socorro dos pescadores, que tem como sede a capela de N.ª S.ª da Conceição, erigida pelo povo, próximo ao varadouro. Ainda hoje estão profusamente representadas imagens e iconografias alusivas à vida de São Pedro Telmo nas paredes laterais da capela, sendo testemunho do seu culto devocional.

Segundo registos datados da segunda metade do século XIX, as festas de São Pedro e São Pedro Telmo apresentavam-se como manifestações religiosas com grande impacto social, apresentando, à data, elementos identitários singulares, que denotam traços etnográficos que remontam aos primórdios da formação da cultura popular portuguesa.

Segundo uma discrição de Joaquim Pestana, publicada em 1876, a procissão de São Pedro fazia-se da seguinte forma: «Na frente hiam quatro mancebos a cavallo, vestidos á turca, levando cada um uma bandeira hasteada; em seguida uma dança composta de dez ou doze homens, trajando fatos exquisitos, sobresahindo uma carapuça, guarnecida de muitas fitas, que cahiam pelas costas abaixo; depois a denominada barquinha, conduzida por quatro homens robustos. (…) Apoz isto seguia-se uma rede levada por doze pescadores, vestidos (…) á similhança dos Apostolos. Atraz seguiam confrarias, santo e o pallio, rematando, como é uso, por uma boa música instrumental.»

Com o passar dos séculos, esta festividade perdeu fulgor e desvaneceram-se muitas práticas identitárias que caraterizaram esta manifestação cultural popular.

É por isso que, no decurso da última década, a autarquia de Câmara de Lobos, em estreita parceria com a paróquia local e a comunidade, tem feito um esforço para recuperar os elementos de identidade popular que caraterizam o nosso São Pedro. Foi assim que, em 2016, passados mais de quarenta anos de ausência, reintroduzimos o andor de São Pedro Telmo na tradicional procissão religiosa e, inspirados no relato de Joaquim Pestana, reconstituímos o cortejo de São Pedro Telmo, procurando resgatar aquele valioso património cultural imaterial.

No arranque das festas deste ano, abriremos o certame com a reintrodução das tradicionais romagens e bazares, elementos culturais muito próprios da tradição popular. Recuperaremos também as ancestrais romarias marítimas do São Pedro, ligando Câmara de Lobos à Ribeira Brava, num cortejo religioso e popular que caraterizou no passado esta celebração.

Inspirada na força da tradição, a cidade de Câmara de Lobos prepara-se para receber, entre 28 de junho e 2 de julho, todos quantos queiram vivenciar uma manifestação cultural popular com identidade e autenticidade, onde não faltará a animação, as marchas populares, o fogo de artifício e as sempre surpreendentes instalações de arte urbana, que enchem as nossas ruas de criatividade, arrojo e brilho.

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