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Artigo de Opinião

Deputado

25/11/2023 08:00

Uma das relações biológicas (ou ecológicas) mais famosa é o comensalismo, sendo a interação entre rémoras e tubarões um dos exemplos mais conhecidos desta relação. As rémoras, pequenos peixes que, dada a sua insignificância, prendem-se ao corpo dos grandes tubarões para se alimentarem dos restos alimentares do grande peixe, para além de serem transportadas sem grandes gastos de energia.

Podemos dizer que estes pequenos indivíduos obtêm deste último todas as garantias para a sua sobrevivência, beneficiando assim dessa relação, e garantindo que o seu portador, conserve o seu caminho, sem complicações ou dificuldades, durante todas as décadas da sua (longa) atividade predatória.

As semelhanças do comensalismo com as relações políticas têm estranhas coincidências, e o Programa de Governo levado à discussão na semana passada comprovou que a prática do comensalismo político continua bem representada na classe política regional.

Num festim de "peixe miúdo" onde não faltaram as oportunidades de se saciar os apetites de outros tubarões, as pequenas "rémoras" foram muito hábeis em demonstrar o conforto em manter intacto e inalterado o aparelho de 50 anos, evitando que os "tubarões" tivessem de desviar as suas rotas, e evitando qualquer reforma que, mesmo que melhorando a vida dos cidadãos, afetasse os interesses estabelecidos dos "grandes cardumes" de afamados tubarões.

O verdadeiro prejudicado pelo comensal político travestido de parasitismo será o conjunto de madeirenses parasitados, que não têm a sorte de fazer parte dos altos círculos de influência e poder. E que, vedados do "banquete", continuam a ver, ano após ano, os seus rendimentos diminuírem, absorvidos por uma máquina fiscal prepotente e autoritária e com um apetite cada vez mais voraz, enquanto continuam a agonizar com a falta de resposta na saúde, na falta de habitação, no aumento de custo na vida das famílias e das empresas madeirenses e na falta de soluções para as políticas dos transportes marítimos e aéreos cujos elevados custos condenam uma Região insular.

Assistimos a uma remodelação de um Governo que não correspondeu nem ao que uns prenunciavam nem ao que outros reclamavam, com falta de respostas para aumentar o rendimento de agricultores e pescadores e que, numa Região onde um quarto dos madeirenses vive em risco de pobreza, preferem continuar a gastar milhões de euros para destruir um dos nossos maiores ativos para um desenvolvimento sustentável - o nosso ambiente, as nossas florestas e os nossos recursos naturais.

Apesar de estarmos abrigados com uma manta social, económica e ambiental completamente esburacada, com uma classe média desprotegida e ameaçada e com milhares de cidadãos sujeitos diariamente às dificuldades da vida quotidiana com a inflação, continuam a tentar instalar a ideia de que tudo está bem assim, optando (na falta de argumentos válidos) por ofender e injuriar todos aqueles que "ousaram" apresentar medidas racionalizadoras e alternativas para servir o interesse geral da coletividade. Afinal, se assim não agissem, quem protegeria os tubarões e as suas leais rémoras? Porque se os grandes peixes não parecem estar muito interessados nessas tais reformas, as submissas ventosas que os acompanham mostram ter ainda menor entusiasmo.

Infelizmente, nada de muito diferente do que tem acontecido ao longo dos anos. Há meros espécimes que, arrogantemente, se arvoram em grandes tubarões e que, ao se esquecerem da sua impreparação, da sua falta de experiência e da sua história política e dando satisfação desmesurada aos seus egos, tentam chegar ao topo da cadeia.

Esquecendo, porém, que todos sabem muito bem identificar onde estão e quem são os comensais. E que estes apenas continuarão a se alimentar dos restos políticos, enquanto o tubarão o permitir. Porque esta é a lei do comensalismo político.

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