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Artigo de Opinião

Psiquiatra

6/07/2022 08:00

Atualmente, olhamos para as grandes cidades do país e vemos instalações enormes de hospitais privados. Dão-nos a sensação de eficiência e excelência. Mas quem é que dá essa excelência? Os médicos que trabalhavam no serviço público. Porquê que o SNS se deu ao luxo de perder tantos profissionais de saúde? Ainda há poucos anos atrás era impensável existir formação médica especializada em hospitais privados. Pelo menos desde 2011, se não antes, começaram a existir, porque foi aceite que a qualidade dos profissionais que abandonaram o SNS era igual ou superior aos que continuavam e foi inevitável começarem a formação no privado.

Porquê que o privado floresce de uma forma que é impossível pensarmos nos próximos anos deixarem de existir? Cada vez é mais fácil aceitarmos que o SNS falhe, do que os hospitais privados. Estratégia ou inevitabilidade?

Sinto que a maior parte de nós, os que saíram do SNS, em algum momento acreditou honestamente no SNS e no seu futuro glorioso. Com figuras importantes internacionais a darem-nos os parabéns, o nosso Ego nacional quase explodiu. Mas se estamos a ver a nossa glória definhar, como podemos aceitar? Como podemos fazer diferente?

Em primeiro lugar é preciso falar dos recursos humanos. Há imensos problemas por resolver nesta área, mas o ponto de vista que partilho é o seguinte: nos países que olhamos como referência, os profissionais de saúde têm de lidar com 5-8 doentes por dia em consulta, pelo menos na saúde mental, para se poderem dedicar a cada caso da melhor forma. Por cá, pedem pelo menos 8 doentes por manhã. Temos hospitais públicos e público-privados a forçarem os seus psiquiatras a fazerem consultas entre os 15-20 minutos. Que custo isso tem?

E o leitor sabe que os especialistas desde pelo menos 2012 não são funcionários públicos? Foi criado um contrato coletivo de trabalho e há vários anos que todos os especialistas apesar de trabalharem sem termo, não são funcionários públicos, com a falta de direitos que isso implica.

E quem é que coordena o SNS? Quem é mais velho ou por nomeação política. A subida da carreia e a gestão cabe à antiguidade e não ao valor. Assim, conseguimos manter sempre a mesma estagnação. Pois aqueles que já estão no topo não querem mudar o seu conforto e os que ainda não estão, só querem lá chegar. Desde o início da formação até ao trabalho como especialista, é colocada a pressão de aceitarmos o que não é aceitável. Sou testemunha de humilhações regulares tanto como aluno, interno e especialista e o que se faz? Se falarmos, rapidamente deixamos de ter lugar. Se queremos diferente, se queremos melhor, raramente temos lugar. Imaginem ainda a possibilidade, tal como nas empresas privadas, de os contratos poderem ter clausulas de sigilo. Como podem os profissionais defenderem um sistema que propositadamente não os deixa falar? Liberdade? Só para alguns.

Se queremos um SNS, temos de mudar a trajetória rapidamente e tornar o SNS um bom local de trabalho, trabalhar na prevenção, nos cuidados de saúde primários. Valorizar quem mais faz, como os colegas de Medicina Geral e Familiar.

Para todos os profissionais de saúde: 1. Trabalho digno. 2. Ordenados dignos. 3. Defender a qualidade do técnico e não a sua antiguidade ou outros preceitos.

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