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Artigo de Opinião

18/08/2022 08:00

Adivinhava-se o pai, figura central da imagem, com uma postura séria, no seu melhor fato. Ao lado, a mãe, com o cabelo arranjado, o vestido engomado na perfeição, os filhos alinhados e com um sorriso ensaiado, à exceção do mais novo, mais inquieto e encostado à perna da mãe. Era isto o retrato da família nuclear constituída por pai, mãe e filhos.

Hoje, esta família dá lugar a outra(s) família(s). Este retrato dá lugar a outros tantos, que eternizam momentos da história de cada um.

Podem ser a preto e branco, a cores, com ou sem filtros. São imagens captadas por máquinas fotográficas, câmaras instantâneas ou smartphones. São retratos partilhados em mensagens, mais ou menos privadas, com direito a hastags, impressas em mil e um suportes. Família é sinónimo de laços, de afectos, de vínculos. É uma história feita de encontros e desencontros, narrada a várias vozes.

Não há famílias perfeitas, porque não há pessoas perfeitas, e a riqueza da família está no respeito por essas diferenças e na partilha dos acontecimentos da vida, nos esperados, desejados, planeados, mas também, e especialmente, nos imprevistos, indesejados e que obrigam a reorganizar a "rota", tarefa que se torna menos árdua com uma "tripulação forte e unida".

Hoje, ao pedir a uma criança que desenhe a família notamos na sua expressão algum desconforto, embaraço, apreensão ou receio, reflexo de um turbilhão de questões e interrogações! Quem desenho? Quem é que posso desenhar? (associado a um "a quem vais mostrar o desenho?").

É o receio de magoar os adultos, porque "se as pessoas que mais amo, pai e mãe, não se falam, será que posso desenha-las juntas, colocá-las lado a lado no meu desenho, como as sinto cá dentro?". Será que "posso desenhar o João com quem a mãe vive (e de quem gosto, porque afinal ambos gostamos do Sporting e de pizza com ananás) ou o pai vai ficar magoado comigo? Não é por gostar dele que deixo de gostar do pai". "Os pais dizem que o coração é grande e por isso podem gostar dos filhos todos. O meu também é! E tem lugar para todos".

A família e o seu retrato podem incluir além dos pais (que o serão sempre, não existe ex-pai, nem ex-mãe), os irmãos (os de sangue ou de coração), os companheiros/as de pais/mães, os cuidadores.

Enquanto adultos devemos garantir às crianças a segurança para manifestarem o seu afeto e criar laços que os tornem adultos seguros, tolerantes, empáticos e capazes de olhar para além da superfície, do óbvio.

Porque a vida prega "partidas" e os pais não são eternos e muitas vezes "saem da história antes do tempo" é preciso respeitar o seu lugar na vida e na história da criança ou do jovem - não é por estar presente no desenho, na moldura de destaque no quarto, no discurso, que o luto não foi feito.

Hoje, há famílias tornadas gigantes porque resultam de novos encontros, de uniões. Há famílias com duas mães ou dois pais. Há famílias só com uma mãe ou um pai. Há de todas as cores, formas e feitios. Há a família de sangue e a da vida. Há a que recebemos, a que construímos ou reconstruimos, a que escolhemos para nos acompanhar nos dias de sol, mas também de tempestade.

Para muitos a família é um desejo adiado! Penso num miúdo que me disse um dia que queria uma família explicando que "família é ter uma pessoa que está lá sempre para nós". Gosto da simplicidade desta definição.

E sim, este miúdo conseguiu o seu desejo, ter uma família, alguém que está lá e a quem ele conta as aventuras, mas também todos os outros "nadas" que fazem a sua vida.

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