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Artigo de Opinião

Psicóloga

3/11/2021 08:01

Uma dor que não se quer perpetuar no tempo, um luto que na sua complexidade se teme em aceitar.

Tentativas infrutíferas no plano da natureza humana, associadas ao sonho de uma filiação não alcançada, levam a que se procurem soluções em laboratório. O mundo interno vira-se ao contrário. Nada de nada entre todas as possibilidades. Surgem então as ambiguidades, entre a criança que nasce de ti e a criança que já nasceu do outro.

O tesouro está ao alcance de uma chave na mão. Quereremos nós abri-lo? Aceitaremos nós ser os guardiões de príncipes em castelos de cristal?

A decisão está na facilidade de uns, e na dificuldade de outros.

Estarei no fim de um ciclo em que aceito, ou no início de uma temporada de múltiplos desafios que não abalarão o desejo?

Se o corpo cria uma relação com a mente e da fusão nascem mais do que afetos, então estou pronta.

Abro a porta do castelo e incondicionalmente acolho o príncipe - um filho, independentemente das nossas histórias, juntos faremos uma nova história.

Avanças! Entre entrevistas, consultas e terapias, percebes que o processo pode demorar até 5 a 8 anos, para que a criança deixada na rua, numa instituição, negligenciada, abandonada no hospital, junto à porta da igreja, no caixote do lixo, numa casa de acolhimento, possa ter uma nova família. Entretanto, vai crescer, vai sofrer, vai rir e chorar, vai ter medos, vai brincar ou isolar-se, vai ter traumas e até lá ainda falta um tempo levado com ansiedade, angústia e momentos de esperança perdidos, vai ver amigos a serem escolhidos e vai pensar: "porque não sou eu o eleito?"

A espera da decisão judicial "paralisa" durante anos. Onde quer que estes filhos andem, também desejam ter um lar a quem possam chamar família.

Após a conquista de anos de espera e explorações de teorias, esvazia-se a mente com apenas uma questão: "estarei ao alcance de conseguir exercer a minha função parental"?

O impacto das diferenças relacionais e o querer agradar e ser agradado, leva-nos a procedimentos na integração com desafios que se rasgam num desencontro de papéis parentais, principalmente quando durante 7 anos de espera, aquela criança sobreviveu num mundo "sem" vínculos (independentemente da idade).

Dar espaço, conhecer, nascer de novo, regras, educação, viver com um passado na mente de um cristal, conviver com sentimentos e emoções ao rubro, é o maior desafio da adoção. Nem sempre é fácil.

Não importa a idade, o nome, o sexo, a cor da pele ou a religião, um filho é um filho. E eu…desejo esse filho. O filho que não tive e que tantos pais, por diversos fatores abandonaram. Sorte? Azar? Não importa! Os pais de coração, estão, e estarão ali. Terão o desconhecido, certamente com lutas de amor e agressividade, choro e revolta, contudo, são pais de coração. Sejam elas famílias monoparentais, homoparentais ou heteroafetivas, são a família que fará com estas crianças HISTÓRIA. São Histórias para contar, num processo de metamorfose comum a todos.

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