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Artigo de Opinião

25/06/2022 08:00

Trata-se de uma epístola em que São Paulo explica que as Virtudes não se autoelogiam. São, sim, reconhecidas pelos outros.

E na própria Maçonaria, conforme o seu "catecismo" do "rito escocês", à pergunta "és maçon?", o maçon não diz "sim", nem "não". Responde: "os meus irmãos reconhecem-me como tal".

Por isso agradeço à população do Porto Santo, representada pela Autarquia Municipal, terem-se lembrado deste cidadão sempre ao Vosso serviço.

Freud escreveu que a memória pode ser repressão, na medida em que tende a ignorar aquilo que não nos agrada. E, ainda no domínio científico da Psicologia, que considera o reconhecimento um acto de rememorizar alguém com sentido de gratidão face a um benefício concedido, também se ensina que, evocar, traduz um sentido de familiariedade, traduz uma associação emotiva de cada Pessoa com algo de notório que ficou na sua experiência de vida.

Porém, a grande sabedoria popular, por sua vez, a todos nós ensina que "uma andorinha não faz a Primavera".

O salto do Porto Santo, o que é hoje o Porto Santo, comparado com há cinquenta anos atrás, deve-se sobretudo, e em primeiro lugar, ao Povo do Porto Santo.

Quando na minha condição feliz de "terceira idade", alguém simpaticamente tenta atribuir-me a paternidade de qualquer obra no tempo, eu respondo "a obra é do Povo".

E é do Povo, porque foi o Povo soberano que inteligentemente me compreendeu, pelo que, em sucessivas eleições democráticas, me deu tempo para que, com os meus Governos, desenvolvêssemos uma estratégia que alterou substancialmente o atraso a que nos condenara um colonialismo de seis séculos.

Trabalho este, que fizemos em "spin-off".

Isto é, independentemente da pertença a um Partido político, pois os Partidos não são um fim em si mesmos, são apenas um dos instrumentos para a concretização do Bem Comum.

Portanto, foi o Povo o motor do Desenvolvimento Integral.

E assim sucedeu também na ilha de Porto Santo.

Devo a tantos Amigos, muitos dos Quais repousam já no Bem Absoluto, aqui nesta Ilha me terem ensinado o que era necessário fazer para pôr termo às injustiças de séculos. Para pôr termo à forma como o bom Povo desta terra foi abandonado ao isolamento e, por vezes não poucas, absolutamente indefeso e chegando a passar fome.

As Mulheres e os Homens que muito me ensinaram sobre Porto Santo, foram de todas as condições sociais. Por isso, a mim nada é devido. Foi o Povo que me mandatou democraticamente para eu seguir na linha que este mesmo Povo me apontava.

Daí que, embora recebedor, eu peça licença para ser apenas um simples depositário de uma Distinção, que endosso a todo o Povo do Porto Santo, muito grato pelo que nesta Ilha aprendi, e pela maneira como a minha governação foi orientada e seguida.

E aqui evoco, com o maior Respeito e Saudade, todos os que foram meus Colaboradores mais directos, quer na Delegação do Governo Regional, quer em todas as Câmaras fosse qual fosse a respectiva côr política.

Bem como agradeço a todos os Trabalhadores da Função Pública, sem os Quais não teriam sido possíveis as transformações aqui operadas e à velocidade desenvolvida.

Não esqueçamos duas coisas.

Primeira, nalguns anos, o Porto Santo chegou a atingir o nível de maior investimento público anual, por cabeça, em todo o território nacional.

Segunda. A falta de água, então, chegou a colocar dúvida nalgumas "cabeças" da capital da República, se seria, ou não, viável, a habitabilidade da ilha do Porto Santo.

Ainda hoje, passadas quatro décadas, agora é que, por lá, começam a discutir a hipótese do recurso a centrais dessalinizadoras.

Nenhum Ser Humano é perfeito, logo nenhuma obra humana é perfeita.

E é assim que peço julguem a minha actuação, enquanto instrumento da vontade soberana do Povo.

Até porque fui sempre verdadeiro, nunca escondendo o meu entendimento de a Democracia ser um regime político frágil, resultado lógico da Sua essência.

Razão pela qual, ao desenvolver a Sua aplicação e sobreviência, fi-lo com musculação racional - diferente de mera teimosia inútil - nunca cedendo a circunstâncias que entendesse secundárias face aos objectivos traçados. E foi assim, porque era preciso andar depressa e com eficiência, sem comprometer as Liberdades democráticas.

Sobretudo pela noção de três problemas difíceis:

• a dupla insularidade de Porto Santo e a pobreza de recursos de todo o arquipélago;

• três terríveis males endémicos da Madeira e do Porto Santo: bilhardice, inveja e subserviência ao que venha de fora;

• a cultura política, com quase nove séculos, de um Portugal que nos orgulhamos de ser, fortemente centralista desde os primeiros Reis e marcadamente colonial mesmo findo um Império de mais de cinco séculos.

O Povo de Porto Santo soube fazer com que eu torneasse estes caminhos difíceis. E, hoje, cá estamos, como cá estou eu muito Vos agradecendo, em particular ao Senhor Presidente, Dr. Nuno Baptista, Quadro desta Ilha, e que desde há uma década acompanho a Sua excelente Formação pessoal e competência.

Não há dois Seres Humanos iguais.

Graças a Deus, todos nós somos diferentes uns dos outros.

Mas, perante os grandes problemas do presente e do futuro, tal não impede darmos todos as mãos, na altura das decisões principais. Só nos dignificará. Porque demonstramos, assim, a nossa elevação como Povo que sabe distinguir e vencer as adversidades fortes, sem que saia beliscada a Identidade legítima e própria de cada um.

Hoje, tendo nós sabido conquistar a Democracia e a Autonomia Política, só uma boçalidade cega faz minorias serem instrumentos submissos daqueles que mantiveram estas Ilhas oprimidas com atrasos de séculos, e que, apesar do 25 de Abril, indecentemente tentam ainda travar os nossos Direitos legítimos.

Direitos que são de cada um de nós.

Direitos que terão de ser dos nossos filhos, netos e gerações que nos continuarão.

Estas Ilhas são um território tão pequeno e tão difícil, que não nos devemos deixar dividir pelos de fora e seus serventuários, no tocante ao que prioritário para o futuro.

Com este apelo, e com um profundo MUITO OBRIGADO ao Porto Santo, termino com palavras de Winston Churchill: "Vivemos com o que recebemos; mas marcamos a vida com o que damos".

* Resumo de palavras proferidas na Câmara Municipal.

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