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Artigo de Opinião

5/02/2022 08:00

Somos, de facto, na sociedade da selfie e do flash, onde é mais importante mostrar do que viver; parecer do que ser; falar do que ouvir; gritar do que pensar. Todos os estímulos sociais e culturais nos levam mais a ser temerários e repentistas do que ponderados e reflexivos.

E se isto é assim na nossa vida quotidiana, não o é em menor proporção na vida pública ou política. Como soe dizer-se, a política é o momento. Mas o momento, ao contrário do que muitos fazem crer, não precisa de ser a mera espuma dos dias.

Vem tudo isto a propósito das eleições do último domingo ou, melhor dizendo, das inúmeras reações que surgiram aos resultados das eleições.

Ora, para perspetivar o futuro - um futuro que nos permita continuar na senda do desenvolvimento económico e da criação de riqueza, que nos faça evoluir na coesão social e no combate às desigualdades e às injustiças sociais, que garanta progresso social, económico, científico e cultural - é decisivo que nos deixemos invadir pelo silêncio e façamos uma reflexão profunda sobre quais serão os melhores caminhos a seguir.

Na Madeira, os eleitores continuaram a entender e a validar a mensagem do PSD-M. Mau grado os detratores de Miguel Albuquerque, a verdade é que, com a sua liderança, o PSD-M tem conseguido manter-se como força política dominante, liderando este processo de desenvolvimento e progresso que temos vindo a registar desde que ganhámos a nossa autonomia. E se, durante muitos anos, o PSD liderou este processo em regime de exclusividade, a verdade é que desde 2019 tem o CDS como um parceiro efetivo e leal. Temos hoje um governo de centro-direita unido e estável, porque ambos os partidos se entenderam e perceberam, no rescaldo das eleições legislativas regionais de 2019, o desastre que seria um governo liderado pelos socialistas.

Nas últimas autárquicas, e também de forma a evitar instabilidades desnecessárias, a coligação PSD/CDS estendeu-se a algumas autarquias, o que poderá ter sido decisivo para as resgatar da esquerda.

E aqui chegados, este é o momento para refletir sobre qual será a melhor estratégia a seguir em 2023, até tendo em consideração os resultados das últimas eleições.

Para quem, como eu, acredita que o (melhor) futuro passa por termos um governo liderado por Miguel Albuquerque, o melhor resultado será uma maioria inequívoca de direita. A verdadeira questão é: será benéfico PSD e CDS apresentarem-se coligados?

Sinceramente, não tenho uma resposta decisiva à pergunta. Há, todavia, alguns elementos que devemos ponderar, atendendo ao resultado das eleições e mesmo compreendendo que foram, manifestamente, distintas, com idiossincrasias próprias e irrepetíveis. Façamos, contudo, o exercício. Antes de mais, para onde foi o eleitorado do CDS de há 2 anos? Se se tivesse diluído, a coligação sairia reforçada em 5, 6, 7 mil votos. Uma vez que isso não aconteceu, e os novos partidos da direita cresceram exponencialmente, a hipótese que sobra é de que o CDS foi anulado e o seu eleitorado disperso por Chega e IL. Ora, assumindo que o partido não será extinto, creio que seria positivo testar-se, sozinho, em eleições, até porque poderia sair reforçado, mostrando, assim, que ainda mantém a sua força nas urnas. Aliás, seria até útil para evitar uma sangria do eleitorado de direita, que reforçará os liberais é verdade, mas também, inevitavelmente, o populismo do Chega.

Eu percebo que os dirigentes do CDS queiram ir coligados: encetaram um projeto de governação em 2019 e é legítimo que queiram dar-lhe continuidade. Todavia, em democracia, não é a vontade dos partidos ou dos políticos que impera, mas a vontade do povo. E a verdade é que não sabemos o que o povo quer e muito menos se é a sua vontade que o CDS se mantenha na governação em 2023. E esta é outra razão pelo qual o CDS deveria submeter-se ao escrutínio eleitoral. Até porque se se comprovar que a população pretende dar continuidade a este projeto, isso poderia reforçar a influência do CDS no Governo.

Pela parte do PSD, também seria importante perceber como se reconfigura a Assembleia Legislativa Regional e o espaço ideológico à direita, antes de estabelecer coligações. Não há dúvidas de que hoje a maioria sociológica sufraga a governação de Albuquerque. Mas como será em 2023? Que representações emergirão das eleições, que força terão e que causas defendem?

Ora, são mais as dúvidas que aqui manifesto, do que as certezas. E parece-me demasiado precoce tomar decisões definitivas. Daí, ser apologista que, no próximo congresso regional do PSD, os delegados devam deixar nas mãos da Comissão Política e do Conselho Regional a decisão de estabelecer coligações pré-eleitorais. Porque será necessário algum tempo e muita ponderação para perceber qual será a melhor estratégia para garantir que a Madeira continua a ser (bem) governada pelo PSD e por Miguel Albuquerque. Será necessário o tempo do silêncio e da reflexão. Que serão, com certeza, bons conselheiros para PSD e para o próprio CDS.

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