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Artigo de Opinião

Diretor

1/03/2025 08:05

Quem casa, quer casa!

Este era um ditado popular que parecia coerente nos anos 80 ou 90. Apesar das dificuldades, ainda fazia sentido.

Naquele tempo, quando alguém decidia constituir família, sabia que além de juntar os trapinhos tinha de se fazer à vida para conseguir ter o seu próprio espaço.

Foi difícil, claro que foi. Foi preciso muito esforço, anos de compromissos bancários, décadas de dívidas e de opções rigorosas.

Nem todos conseguiram, como é evidente. Mas havia uma perspetiva, uma possibilidade mais ou menos real. Com emprego garantido e salário certo, muitos jovens conseguiam um pequeno apartamento, uma casa nos arredores da cidade, um terreno por mais curto e distante que fosse.

Isso era naquele tempo.

Hoje, esse ditado está fora de uso.

Além das mudanças da estrutura familiar, a realidade social e económica alterou-se de forma drástica.

Hoje, grande parte dos jovens não consegue ganhar e poupar o suficiente para um pequeno terreno e muito menos para um apartamento ou casa nos arredores.

Naquele tempo, ainda havia alguma habitação social, mesmo que em bairros pouco simpáticos. Havia movimento cooperativo que permitia preços verdadeiramente controlados.

Isso era naquele tempo.

Hoje, como nunca, a habitação é um negócio onde só entra quem tem capacidade financeira acima da média.

Hoje, os terrenos são muito caros, os apartamentos estão pela hora da morte e as casas são um sonho proibido para milhares de jovens ou de famílias de meia-idade.

O mercado mudou substancialmente. Os turistas descobriram o segredo do nosso paraíso e vieram com tudo.

Os turistas, como está bom de ver, “são daquelas gentes de ter”. E quem tem, compra. Quem compra, paga. E paga bem.

É assim neste tempo.

Em tempo de eleições – como é todo o tempo na Madeira nos últimos dois anos – alguma corrente política ‘deitou-se a adivinhar’ as razões para este fenómeno. E o mais fácil foi atacar. Atacam os proprietários que vendem, as empresas que fazem negócio e os turistas que compram.

O mais fácil foi diabolizar uns e outros sem cuidar de perceber que se uns vendem caro é porque outros caro compram. E ninguém, no seu perfeito juízo, vai vender por menos do valor de mercado.

É assim neste tempo.

Os cidadãos mais atentos já terão percebido que o problema da falta de habitação é mais complexo do que parece.

Não se trata aqui, apenas, do preço dos apartamentos, das casas ou dos terrenos. Nem sequer é apenas culpa do aumento brutal dos materiais de construção ou só da bolha que fecha o mercado imobiliário.

O problema é tudo isso junto mais o desequilíbrio social a que se assiste. O problema é que a cada dia que passa a classe média vai sendo mais espremida, mais atirada para a base da pirâmide.

O problema é que os preços das casas subiram em flecha e os salários, sobretudo os vencimentos da dita classe média, sobem a passo de caracol.

É assim neste tempo.

A classe média está cada vez mais arrumada ao canto dos que contam tostões, mas ganham o suficiente para não merecer a mão do Estado.

Na verdade, a classe média tem direito a muito pouco. Tem direito a trabalhar de manhã à noite, a endividar-se por uma vida inteira, a ganhar um pouco mais do que os pobres e a pagar como os ricos.

A classe média perdeu fulgor, dinheiro e direitos e é cada vez mais feita de famílias que aprenderam a disfarçar a pobreza através de um truque em que o dinheiro que entra é igual ao que sai.

A classe média é cada vez mais feita por remediados sem dinheiro para sonhar em comprar ou arrendar casa.

Este é um retrato possível para explicar o caso das casas. O que oferecem os políticos para dar a volta a isto?

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