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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

16/06/2025 03:30

Nestes últimos dias, temos assistido a vários casos de ódio e violência em Portugal continental: agressões em Lisboa durante a manifestação do 25 de Abril por elementos da extrema direita; adeptos do Sporting que atacam e incendiam um carro onde seguiam elementos da claque do clube do Porto; neonazis que agridem voluntárias que distribuíam comida a sem abrigos; ator português violentamente agredido por grupo de extrema direita...

Quem vive em Lisboa sabe que a capital portuguesa vive dias de grande tensão, sendo notório o receio do futuro, a revolta, a indignação e o alarmismo. Receia e indigna quem se preocupa com a segurança, com o andar livre e sem medo pelas ruas. Revolta quem se lembra do que foi viver numa ditadura, da censura e que sabe o que é a intimidação. Alarma quem vê a persistente inação do Governo perante esta onda de ódio e agressão.

A cidade tornou-se palco de um perigoso jogo político de xadrez. Sejamos sinceros: todo o tipo de violência, independentemente de ser de extrema direita ou de extrema esquerda, é mau... uma extrema crueldade e condenável. Perseguir e agredir cidadãos, gratuitamente, nacionais ou estrangeiros, pela sua nacionalidade, origem, raça, fé, género, crença política, e orientação sexual, é inadmissível sendo que devia ser punido.

Relativamente ao mediatismo face ao ataque a um ator português, não é por acaso. Não é por ser um ator que é o motivo de tanto mediatismo. É sim pelo significado deste ato bárbaro. Um simples ator, que às oito da noite no dia 10 de junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas - se deslocava para o seu trabalho, para TRABALHAR e que foi violentamente atacado por uma malicia neonazi. Segundo os relatos, um dos intervenientes esteve envolvido no assassinato de um jovem negro – por questões de ódio racial - que se encontrava no Bairro Alto, Alcindo Monteiro, há 30 anos atrás. Isto é feito no início da noite sem que a polícia tivesse conseguido intervir e impedido a respetiva agressão. O curioso é que isto ocorreu a um quilómetro da esquadra da polícia, situado na Rua da Lapa em Lisboa, e a quinhentos metros do Parlamento. Ou seja, isto já não é feito às escondidas, com receio de ser apanhado. Já é feito às claras, a qualquer hora do dia, sem qualquer tipo de pudor.

A ideia de que os nossos governadores tentam passar é a existência de extremismos. Ora, questiono: isto não é grave? A existência de extremismos que causam violência gratuita nas ruas àqueles que pensam e agem de uma forma diferente não é de uma crueldade intolerável? Não devemos denunciar e combater este tipo de violências e agressões? É este o “mundo” que queremos deixar aos nossos filhos?

Este episódio evidenciou a violência de extrema direita, fascista e neonazi contra atores de esquerda, muitos deles de extrema esquerda. Atores que foram provocados com frases xenófobas e violentamente espancados. Isto é a essência do que é o fascismo. Mas o que é o fascismo? Aquela ideologia política ultranacionalista e autoritária, com poder ditatorial. Mais, é aquela ideia da regeneração da violência, sendo que quem é adepto deste “clube” acredita que a violência é a solução para tudo, calar o adversário com agressões físicas ou verbais, não aceitando o debate dos modos de vida, de expressão e de pensamento diferentes.

A violência só traz mais violência! É fulcral o combate a esta onda de violências e agressões. Caso contrário só reforçará a sensação de impunidade e da escalada da opressão!

Alexandra Nepomuceno escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.

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