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Artigo de Opinião

25/09/2021 08:00

Muxima é, para início de conversa, uma vila situada a cerca de 150 quilómetros de Luanda, ocupada pelos portugueses em 1589 que, dez anos depois, ali construíram uma fortaleza e a igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição.

A igreja de Nossa Senhora da Conceição, para os angolanos "Mamã Muxima, é monumento nacional desde 1924 e considerado o maior centro mariano da África Subsaariana.

Mas Muxima é muito mais do que um simples local de culto. Muxima significa, na língua nacional quimbundu, "Coração".

No tempo da escravatura a igreja de Nossa Senhora da Conceição era o templo onde se batizavam os africanos antes de embarcá-los como escravos para diversas localidades, em especial para as Américas. Com o passar do tempo, e talvez por esta ligação à escravatura, a Muxima foi-se tornando um importante espaço devocional para as populações cristãs autóctones, que, de imediato, começaram a atribuir, à Senhora da Muxima, a realização de diversos milagres. Os rumores de realização de prodígios logo se espalharam pelas regiões circunvizinhas, levando à criação espontânea de variadas práticas e expressões sem a intervenção de instituições religiosas oficiais, quer baseadas na tradição portuguesa, quer totalmente inovadoras ou reminiscentes de antigas religiões africanas.

A mais importante dessas tradições é, sem dúvida, a Romaria de Nossa Senhora da Conceição da Muxima, que remonta ao ano de 1833 e que, em finais de Agosto, início de Setembro leva, à pequena vila do "Coração" cada vez mais peregrinos tendo, em 2015, ali reunido mais de um milhão de fiéis.

Muxima, disse, é mais do que um simples culto religioso. É, para os angolanos "Coração" e não é por acaso que, até hoje, muitos dos peregrinos que ali acorrem, percorrem quilómetros e quilómetros, durante dias para fazer chegar as suas preces à Mamã Muxima e os que, por qualquer razão estejam impedidos de estar presentes no santuário, fazem os seus pedidos através do correio, na expectativa de verem, ainda assim, atendidas as suas necessidades pela "Mãe do Coração".

Quem vai à Muxima, nunca o faz de mãos vazias, leva sempre bens para compensar o "esforço" da santa, que vão desde adornos de prata e ouro a espigas de milho.

Tudo se pede à Mãe Muxima desde a chuva, boas colheitas, saúde, filhos, felicidade nos casamentos.

Agosto e Setembro é tempo de coração. É tempo de peregrinação à Muxima. Tempo de pagar promessas. Agradecer milagres. É tempo da "Mãe Muxima", tempo para ouvir e atender às preces de milhões de angolanos. Ali. Mesmo à beirinha do Kwanza. O mítico rio angolano.

E "Mãe Muxima" lá está. De coração aberto.

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