MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Professor

8/05/2023 03:54

Os séculos subsequentes mostraram as suas limitações. Perdeu a centralidade económica e social da Região, por não assegurar as melhores condições geográficas e, há quem garanta, por erros de má governação.

Ficou um enorme contributo, ao longo dos tempos, para o mérito que hoje todos atribuem à Madeira moderna e cosmopolita que nos orgulha. Deu insignes filhos ao mundo. Uns, humildes anónimos que, por aqui ou pelos cinco cantos do planeta, com o árduo trabalho dos seus braços, ajudaram a edificar vilas e cidades, construíram barcos, navegaram mares longínquos, pescaram em águas quentes e frias deste e doutros oceanos. Outros ainda, por terras da diáspora, levaram o cunho próprio da terra mãe, desenvolto e desenrascado, honrando a máxima local de que "onde está um machiqueiro, está um engenheiro". Alguns deram nome às artes e às letras. Ontem, Francisco Álvares de Nóbrega, hoje, o Cardeal Tolentino Mendonça, entre outros, são os nomes mais sonantes.

Machico é de facto uma "Nação", como gostam de se vangloriar os machiquenses comuns que enchem o peito de orgulho por terem nascido nesta terra. Claro que não deixa de ser uma hipérbole, mas sinaliza bem um dos traços distintivos deste pequeno mundo que nunca quis deixar de ser importante. Há sempre uma nostalgia mal disfarçada na consciência comum desta terra.

Primeiros na descoberta e povoamento. Pioneiros no turismo. Imbatíveis pescadores do alto mar. Desportistas de inegável raça e talento. Viveiro de jogadores de futebol. Foi desta massa que se foi criando o mito.

Que continuou na política do pós-25 de abril. "Machico terra da liberdade" por ter recebido o novo regime em festa e euforia. Tendo assumido uma quota-parte dos exageros políticos que marcaram o período revolucionário. "Machico terra de abril" que se perpetua naqueles que nunca se libertaram da nostalgia duma juventude revoltosa.

Hoje, é comum confrontarmo-nos com a amarga sensação de que o passado foi melhor do que o presente. De que, na atualidade, Machico não tem qualquer traço específico que o distinga pela positiva. Fala-se muito do passado. O "antigamente é que era" corre nas conversas diárias. Da política ao futebol, do turismo ao divertimento noturno, encontramos um machiqueiro saudosista em cada esquina, em cada casa.

Mas será mesmo assim? Tenho dúvidas. Penso que essa atitude está mais próxima dum vício comportamental, duma teimosa forma de ser, do que da realidade. Machico é hoje uma bela cidade, com equipamentos sociais de qualidade, atraente para os que nos visitam, dócil para os forasteiros que residem entre nós. Viver em Machico vale, cada vez mais, a pena. Sem o puritano exagero local de que "é a melhor terra do mundo" ou "é melhor ser pobre aqui do que rico noutro lugar". Só o desmesurado apego à terra faz dizer coisas assim. Um cliché esculpido pela saudade dos que partiram em busca de melhor sorte.

A verdade é que o mundo mudou. Outros valores se impõem, outras iniciativas são necessárias. Honra-nos o passado, mas o futuro pertence às novas gerações. E essas, com saberes académicos acrescidos, libertos de dogmas e preconceitos, com muito mais mundo, desagrilhoados de ideias políticas redutoras, conseguirão certamente fazer cumprir os pergaminhos do histórico concelho de Machico que hoje assinala os 583 anos da sua fundação.

Emanuel Gomes escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas

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