Nova Iorque, a cidade mais cosmopolita do mundo, nunca deixa de surpreender. É diversa, vibrante e contraditória. Quando a visitamos, sentimos uma sensação de “já aqui estive”, não fosse uma das cidades mais retratadas em filmes e séries. Mas agora, Nova Iorque volta a estar nas notícias ao fazer história, ao eleger o seu novo presidente da câmara, Zohran Mamdani. Um jovem millennial de 34 anos, muçulmano, nascido no Uganda e filho de imigrantes. Num país marcado por vários episódios de racismo e xenofobia, incluindo islamofobia e divisões profundas, esta vitória é, acima de tudo, a vitória da diversidade que vive em Nova Iorque.
Mamdani é socialista democrático e, desde cedo, percebeu algo essencial: numa democracia polarizada, os extremos e os binarismos são um beco sem saída. Escolheu outro caminho: o da proximidade, o da escuta e o da clareza. Conquistou Nova Iorque com uma mensagem simples, mas poderosa: tornar a vida mais acessível para todos os que nela vivem. Falou de transportes públicos gratuitos, de habitação a preços acessíveis, de segurança e de cuidados infantis universais. Apresentou soluções concretas, e não apenas slogans que ficam no ouvido. Mamdani conseguiu transformar ideias numa narrativa que mobilizou pessoas na cidade mais diversa do mundo.
Numa altura em que o centro-esquerda está a emagrecer um pouco por todo o lado, o que podemos aprender com a cidade que nunca dorme? São várias as lições. A autenticidade foi a imagem de marca. Zohran não se escondeu atrás de discursos perfeitos nem de campanhas polidas. Saiu à rua. Ouviu. Falou com as pessoas, onde elas vivem e trabalham. Usou as redes sociais não como palco, mas como ponte. A forma transparente, empática e direta como comunicou fez a diferença.
Filho de Mahmood Mamdani, professor universitário e de Mira Nair, cineasta de renome, Zohran não esconde o seu privilégio. Pelo contrário, reconheceu-o. E colocou-o ao serviço da comunidade. É certo que moderou algumas posições passadas, mas demonstrou realismo político e capacidade de diálogo. E é justamente aí que reside a força da sua liderança que o levou à vitória quando, no início, poucos apostaram nele: a combinação entre a convicção e sensatez, entre o idealismo e o pragmatismo.
A vitória de Mamdani é um lembrete para a Europa, e para Portugal: as pessoas querem políticos que as compreendam.
A lição de Nova Iorque é simples, mas profunda: a democracia vive da escuta. Da política feita com as pessoas, e não para as pessoas. Numa Europa cada vez mais envelhecida e desencantada, precisamos de líderes que voltem a acreditar no poder transformador da política. Zohran Mamdani mostrou que é possível vencer sem ceder ao cinismo, sem diluir convicções, e sem deixar de ser fiel aos valores progressistas. Mostrou que a autenticidade ainda mobiliza, e que a esperança, quando concreta, ainda move montanhas.