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Artigo de Opinião

Presidente do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza

29/09/2021 08:01

Fruto da riqueza existente na floresta indígena da ilha da Madeira e do Porto Santo, após a descoberta destas ilhas iniciou-se um processo de delapidação do coberto florestal existente, com os objetivos de exploração de madeira e carvão, implementação de áreas agrícolas e constituição de pasto para os animais. Desta forma, o coberto florestal indígena foi afetado e delapidado na ilha da Madeira, desaparecendo quase por completo na ilha do Porto Santo.

A falta de técnicos e de pessoas conhecedoras da flora e da floresta madeirense e das consequências da sua devastação, contribuiu para que esta situação se perpetuasse e se agravasse durante séculos.

A situação na ilha do Porto Santo ainda era mais grave, piorando consideravelmente a meados do séc. XVIII, levando quase à completa desertificação da Ilha.

Com o crescente aumento de importância que a floresta passava a adquirir, sendo imprescindível a sua ação na captação da água, quer de regra, quer de consumo e na sustentação dos solos, levou desde os meados do séc. XIX à criação de departamentos governamentais que se debruçaram sobre os trabalhos de reflorestação e preservação da floresta da ilha da Madeira e Porto Santo. Nos finais desse século a Madeira passou a possuir técnicos portugueses habilitados nessa área, sendo o mais notável o regente florestal Schiappa de Azevedo, que focou a sua ação principalmente na ilha do Porto Santo. A erosão e desertificação nesta ilha era de tal forma grave que Schiappa de Azevedo escolhendo o cume do Pico Castelo para iniciar no inicio do sec. XIX o seu trabalho de reflorestação, teve que armar o terreno e constituir muretes em pedra para suporte e sustentação da pouca terra (solo) que existia na encosta, conseguindo assim solo e condições para plantar árvores, numa obra notável que ainda hoje é visível no terço superior da encosta do Pico Castelo e que por vezes obrigou à constituição de um muro de pedra para cada árvore a plantar. Para este trabalho Schiappa de Azevedo utilizou nas suas plantações essencialmente o Cupressus macrocarpa e o Pinus radiata.

Após a sua morte o seu trabalho foi continuado tendo-se arborizado a parte alta do Pico Castelo utilizando a metodologia de plantação por si desenvolvida.
Schiappa de Azevedo possui uma estátua desde 1957 com o seu busto no cume do Pico Castelo em homenagem ao trabalho efetuado no combate à desertificação e à reflorestação do Porto Santo.

Desde o mês passado o Pico Castelo conta com um totem com informação sobre o trabalho notório deste homem, numa homenagem efetuada pelo Secretaria Regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas e Câmara Municipal do Porto Santo a esta figura ímpar e importante principalmente para o Porto Santo, mas que muitos ainda desconhecem.

Fica aqui também a minha homenagem a este homem, regente florestal que segundo as Ilhas de Zarco "Fez da sua Regência Silvícola um sacerdócio, dedicando-se com paciência beneditina à arborização dum deserto. Vezes sem conta arriscou a vida em frágeis embarcações de pesca, afrontando o agitado e não raro proceloso mar da Travessa, para rasgar 40 milhas do Funchal até o Porto Santo com a frequência exigida pela vida de suas plantas. Por isso, a mancha verde do Pico Castelo, a maior de todas as manchas parciais escapadas à sede e aos vendavais, é um monumento de rara dedicação profissional, heróico amor à natureza,… e de evocação científica por um regime pluvial".

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