Antes dos 3 erres.
Noutros tempos não se falava em reduzir, reciclar e reutilizar. Nessa altura ficávamos apenas pelo reutilizar. E era levado à letra.
Quase tudo era aproveitado. Um prato que se partisse tinha concerto. Um ponto de arame e uma boa técnica de concerto em mãos sábias davam nova vida a este utensílio de cozinha. Uma lata de azeite, após consumido o produto, passava pelo picheleiro, levava uma asa de metal e funcionava como um caneco de medida para utilidade diversa.
Nesse tempo os sacos de plástico quase nem existiam. Faziam-se de pano que serviam para ir à venda buscar pão, ou para levar grão ao moinho para ser transformado em farinha. Tudo era aproveitado. As roupas que se usavam no dia-a-dia também tinham de durar. Quando sofriam algum desgaste ou eram vítimas de algum azar, levavam uns remendos por forma a tapar os buracos.
O que agora em muitas peças de roupa é moda, nessa altura era necessidade. Agora é “fashion” noutros tempos provocavam vergonha a quem as usava. Um simples remendo era dado em casa. A mãe a avó a irmã, por norma qualquer uma destas pessoas resolvia de imediato o problema. Uma agulha, um dedal e linha eram suficientes para ultrapassar a situação. Quando os concertos eram mais profundos havia a necessidade de recorrer a gente mais especializada. Era aí que entravam as costureiras. Eram profissionais do ramo. Especialistas. Eram elas que cuidavam de dar nova vida às peças.
Por norma não existiam muitas e por isso mesmo tinham muito trabalho. As oficinas eram nas próprias casas. Um quarto onde tinham uma máquina de costura daquelas com pedal e quase todas da marca “singer”. Que me lembre não existiam centros de formação o onde se aprendesse a arte. A sabedoria era transmitida normalmente de mães para filhas. Os trabalhos eram feitos na sua própria casa, mas por vezes eram requisitadas para se deslocar um dia ou mais a casa do cliente. Tudo dependia da quantidade de trabalho.
Para além de confecionarem roupa nova feita à medida, também faziam grandes reparações. Quase tudo era aproveitado. O que era velho ganhava nova vida e voltava a ser usado. Nesse tempo as famílias eram grandes e as peças de roupa iam passando de irmãos para irmãos ou de irmãs para irmãs. Tudo era aproveitado. Nesse tempo os guarda-roupas eram bem menos recheados do que são hoje. Nas zonas rurais quase não existiam alfaiates. Havia um outro, mas eram muito menor quantidade que as costureiras. Os alfaiates tinham uma especificidade própria que se cingia praticamente à volta dos fatos. Já as costureiras eram mais versáteis e resolviam problemas diversos na área da confeção. Nesse tempo comprava-se muitos tecidos a metro que depois eram transformados em várias peças de roupa. Roupa para o trabalho, ou a chamada “roupa da missa” que era um pouco mais sofisticada na sua elaboração. As poucas lojas desta área que existiam, praticamente só vendiam tecidos. Pelos sítios também era frequente ver-se vendedores ambulantes que transportam vários rolos de tecido para venda a metro.
Nessa altura tudo se aproveitava. Recordo-me de ver quando os partidos nas campanhas eleitorais começaram a oferecer bandeiras, esses tecidos a serem usados para sacos para ir ao moinho ou até para fazer almofadas. A falta de abundância que há hoje e a necessidade assim o obrigavam.