Com a chegada do outono, do tempo mais frio e das chuvas mais intensas, a paisagem madeirense recupera lentamente o seu verde mais intenso. É também nesta altura, quando o calor dá lugar à amenidade e o perigo dos incêndios parece distante, que começa um dos períodos mais importantes do trabalho do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, IP-RAM (IFCN). O outono e inverno são o tempo de preparar o verão — de planear, restaurar e fortalecer a floresta que nos protegerá nos meses mais quentes do próximo ano.
Muitas vezes, a população associa o trabalho florestal às operações de combate durante os incêndios, quando os meios estão no terreno e as atenções se concentram na emergência. Mas a verdadeira defesa da floresta começa muito antes. Começa agora, com o tempo húmido e fresco, num trabalho silencioso e persistente de reflorestação, de limpeza e ordenamento dos povoamentos florestais, de recuperação de habitats naturais e de controlo de espécies invasoras. É um esforço técnico e metódico que visa criar uma floresta mais diversa, saudável e resiliente aos impactos das alterações climáticas e da atividade humana.
A prevenção de incêndios não se faz apenas com meios de combate ou planos de contingência. Faz-se, sobretudo, com uma gestão ativa e contínua. A cada início de outono, as equipas do IFCN trabalham para reduzir o excesso de combustível vegetal, abrir e manter acessos florestais, criar descontinuidades na vegetação e promover o uso de espécies autóctones, mais adaptadas ao nosso ecossistema. Estes trabalhos, realizados longe dos holofotes, são os que mais contribuem para evitar grandes fogos e para que as áreas florestais recuperem mais depressa quando são afetadas.
Ao mesmo tempo, decorrem ações de controlo de espécies invasoras e de pragas florestais. As invasoras competem com as plantas nativas, alteram o equilíbrio ecológico e aumentam a vulnerabilidade ao fogo. As pragas, como o nemátodo-do-pinheiro, por seu lado, tendem a proliferar em contextos de stress ambiental, enfraquecendo as árvores e abrindo caminho a novos problemas. Combater estas pressões tem sido uma prioridade do IFCN, num trabalho que requer planeamento, conhecimento científico e uma intervenção continuada no terreno, apoiada por programas de monitorização e por equipas especializadas como as que existem neste Instituto.
A floresta da Madeira é um sistema vivo e dinâmico, que precisa de diversidade para resistir. Da Laurissilva às áreas de transição e de produção, tudo faz parte de um mesmo mosaico ecológico que cumpre funções essenciais: proteger o solo da erosão, garantir a infiltração da água, armazenar carbono e proporcionar abrigo à nossa biodiversidade. Cada árvore plantada, cada linha de vegetação recuperada e cada invasora removida são gestos que reforçam a resiliência deste sistema e asseguram que a floresta continue a desempenhar o seu papel vital.
O trabalho que o IFCN desenvolve nesta época do ano não é pontual. Faz parte de uma estratégia de gestão e ordenamento florestal de longo prazo, preconizada no Plano Regional de Ordenamento Florestal e que procura compatibilizar a conservação da natureza com o desenvolvimento sustentável. Trata-se de planear a floresta do futuro — uma floresta capaz de fornecer serviços de ecossistema e continuar a ser símbolo de identidade e orgulho para os madeirenses.
Importa também reconhecer o esforço das pessoas que tornam tudo isto possível. Técnicos, Polícias Florestais, Vigilantes da Natureza, Sapadores Florestais e as diversas equipas de Operacionais, dedicam-se a este trabalho exigente e muitas vezes invisível, movidos pelo compromisso de cuidar de um património que pertence a todos. O seu contributo é decisivo para que, quando o verão chegar, a floresta esteja mais preparada, mais equilibrada e mais forte.
A lição é simples, mas essencial, a floresta não se protege apenas no verão, protege-se o ano todo. É neste tempo de preparação, quando o perigo parece distante, que se constrói a segurança do futuro.