MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Geógrafo / Colaborador Europe Direct Madeira

2/01/2025 08:00

Há precisamente um ano atrás, manifestei neste espaço de reflexão a minha preocupação com a conjuntura internacional e os desafios que 2024 traria à União Europeia, num ano atípico, marcado por um número excecional de eleições que teriam lugar na Europa, mas também na esfera internacional, salientando entre elas, as eleições norte-americanas. Pelo meio, as eleições para o Parlamento Europeu foi uma das preocupações que expressei no artigo, entre outras matérias que infelizmente, não progrediram da forma que eu e os restantes 449 milhões de europeus certamente gostariam.

Devo confessar que entre os acontecimentos negativos de 2024 (e houve muitos, infelizmente), a reeleição de Trump foi algo que me entristeceu profundamente. O currículo desta personagem é algo de extraordinário, mas ainda assim não há outra solução que não seja dar o benefício da dúvida à versão Trump 2.0, na esperança que a idade possa ter trazido alguma humanidade, coerência e racionalidade ao homem que irá liderar a maior potência económica e militar do mundo. Infelizmente, tudo se complica quando sabemos que um dos conselheiros de Trump (nomeado para chefiar a “eficiência governamental”) será Elon Musk, apenas e só, o homem mais rico do mundo, formando-se uma aliança inédita, pouco transparente e que descredibiliza o sistema democrático. Pessoalmente, não antevejo nada de positivo nesta aliança multimilionária, além do aumento óbvio da fortuna astronómica de Musk e, mais grave ainda, o ganho estrondoso que terá na sua capacidade de influência à escala mundial. Aliás, basta pensar na sua recente intromissão, a poucas semanas das eleições antecipadas na Alemanha, com uma manifestação de simpatia à extrema-direita liderada pela AfD!

Mas voltando à Europa (com pouca imunidade ao que se passa no outro lado do Atlântico), os sinais para o ano novo não são animadores. Gostaria de expressar uma visão otimista sobre o que nos espera em 2025, mas tenho enormes dificuldades em fazê-lo. Uma coisa é aquilo que nós gostaríamos que acontecesse, outra coisa são os rumos que as evidências nos apontam, e esses, a meu ver, não são promissores. E não há que ter complexos em assumir as dificuldades. As crises na Europa são reais: lideranças políticas débeis, ausência de uma estratégia eficaz para a imigração, inflação desmesurada da habitação, alterações climáticas, debilidades estruturais e tecnológicas face ao gigante chinês, as incertezas sobre os novos Estados-membros dos futuros alargamentos, etc. A lista é, de facto, extensa e não se resolve com palavras vãs e manifestações de boa vontade expressas a reboque da defesa dos “valores europeus”. Os europeus querem e merecem mais que isto.

Neste contexto, a Polónia liderada pelo antigo presidente do Conselho Europeu Donald Tusk tem a oportunidade de dar o pontapé de partida, ao assumir a presidência do Conselho da UE nos próximos seis meses. Recorde-se que à Presidência compete dar continuidade à agenda da UE, garantir a solidez na legislação europeia, promover a cooperação entre os Estados-membros e a cooperação/coordenação com as restantes instituições europeias. Simplificando, é mais ou menos o papel de um anfitrião de um jantar de família a quem compete receber e promover a harmonia entre os convidados, garantindo que no fim da refeição, se tenham alcançado objetivos comuns e que todos regressam a casa satisfeitos com os resultados obtidos. Quem habitualmente promove almoços de família, sabe bem que não é uma missão fácil. É isto que sumariamente se espera da 2ª presidência polaca com o lema “Segurança, Europa!”. Não quero ser intriguista (até porque fica mal falar da família em público), mas parece-me um lema francamente melhor que o “Make Europe Great Again”, da anterior presidência húngara que deixa para trás, um rol de momentos inusitados protagonizados pelo enfant terrible (vulgo, “ovelha negra”) da família - Viktor Orbán. Infelizmente, há coisas que nunca mudam.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

Ver todos os artigos

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Qual o valor que gastou ou tenciona gastar em prendas este Natal?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas