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Artigo de Opinião

Psiquiatra

4/02/2025 08:00

Temos dentro de nós, o que poderíamos chamar de voz da razão. A nossa opinião, a nossa visão do mundo. Sabemos o que está certo e errado, ou achamos que sabemos.

A maturidade traz-nos as dúvidas. Quando somos adolescentes, atingimos o pico das certezas. Em nenhum outro momento da vida temos tantas certezas. A maturidade intelectual vai progredindo através das experiências de vida, mas também através da maturação do cérebro racional. Considera-se que o córtex pré-frontal termina a sua maturação entre os 20 e 30 anos, o que nos leva necessariamente à possibilidade de as certezas não serem racionais.

Quanto mais uma pessoa investiga um tema, mais vai descobrindo o que não sabe. Pode criar um conjunto de crenças sobre o que descobriu, mas os seus resultados são apenas isso, resultados de uma experiência. Necessitam de ser replicados por outros, noutros ambientes, com outras pessoas ou matérias-primas. Por isso, na verdade, mesmo chegando a conclusões da sua investigação, não pode haver certezas até outros testarem o mesmo. Mesmo assim, passados alguns anos, podem vir novos exploradores e podem encontrar erros ou partes desconhecidas do puzzle que nos faz mudar completamente a compreensão dos antigos resultados.

A terapia de substituição hormonal, é um dos exemplos. Sofreu o impacto de diferentes informações ao longo dos anos e está novamente a ser recuperada, porque percebeu-se que alguma parte da explicação dos maus resultados anteriores foi pelo tipo de molécula, mas também por generalizações erradas dos dados disponíveis. Da mesma forma os psicadélicos estão novamente a ser utilizados para o tratamento de doenças psiquiátricas resistentes a tratamentos convencionais.

Claro que se coloca a questão pragmática. Se em ambientes de laboratório, controlados e exigentes, com múltiplas etapas de supervisão entre a permissão para a experiência e a sua preparação, a sua realização, a análise dos resultados, a sua publicação e discussão pública, em que inovações podem demorar décadas a serem consideradas seguras e comercializadas,

como é que podemos assumir que existem vozes da razão?

A ciência é aborrecida e demorada, porque procura encontrar respostas seguras, certas e duradouras. Mas raramente no resto da sociedade procuramos com a mesma dedicação chegar em segurança a conclusões, a razões. A sociedade atual valoriza a velocidade. Notícias rápidas, decisões rápidas, visualizações e gostos rápidos. Mas quanto mais rápido, maior a probabilidade de erro. Na minha opinião, grande parte do descontentamento com a política atual é a ausência de valores, de honra. Porque valores e honra demoram muito tempo a mostrar valor, a conquistar votos. Valores e honra não podem ser mudados ou adquiridos rapidamente para ganhar votos. A reputação de uma pessoa demora muito tempo a ser construída e pode ser destruída rapidamente. É triste não ser o foco das campanhas. Mas para o ser, só se fosse uma prioridade para todos.

Na construção da sociedade é importante abdicarmos da nossa voz da razão individual e encontrarmos um caminho para construirmos em conjunto uma razoável razão comum, transparente e sem pudor de assumir as falhas da mesma forma que se assumem as virtudes. Mas se quem lidera prefere esconder os seus erros e dos seus filhos e amigos, como é que podemos melhorar e encontrar este caminho comum?

Caminhamos para a frente e não repudiamos o passado. Compreendemos que o passado foi consequência das circunstâncias. E o futuro? Que sociedade estamos a construir?

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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