MADEIRA Meteorologia

Tribunais administrativos passam a ter metas de produtividade e os juízes não gostaram

Data de publicação
12 Dezembro 2024
17:24

O presidente do Supremo Tribunal Administrativo fixou metas de produtividade aos tribunais e juízes desta jurisdição e uma monitorização individual da produção dos magistrados a partir de janeiro, decisão que mereceu o repúdio da associação sindical de juízes.

Num discurso proferido numa cerimónia de posse de juízes que decorreu na quarta-feira, no Salão Nobre do Supremo Tribunal Administrativo (STA), o presidente deste tribunal, Jorge de Aragão Seia, dirigiu aos magistrados palavras que disse esperar que fossem compreendidas como sendo “de estímulo e de motivação”, para “traçar um caminho” a percorrer “em conjunto”, mas um comunicado hoje divulgado pela Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) já veio demonstrar que não foi isso que aconteceu.

Aragão Seia disse que o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais (CSTAF) dispõe de dados que “permitem afirmar com toda a propriedade” que “é possível e é necessário aumentar a produtividade em todas as instâncias” desta jurisdição, a um nível que “assegure mínimos de eficiência” e proporcione um serviço “condigno e eficaz”.

“É nesta sequência que se entende fixar valores para o funcionamento regular do serviço. Em primeira instância é exigível que sejam elaboradas pelo menos 12 sentenças de mérito por mês”, disse o presidente do STA, excluindo destas 12 sentenças os processos que se decidem apenas com base em questões burocráticas e administrativas e não com decisões de fundo de aplicação do direito à causa em análise, as chamadas sentenças de mérito.

“Também nos tribunais centrais é necessário que cada um dos senhores juízes desembargadores elabore 80 a 90 acórdãos por ano, como relator, até que sejam efetivamente recuperados os atrasos de modo a que o serviço possa estar em dia”, determinou ainda.

A juntar a isto, Aragão Seia anunciou uma monitorização da produtividade dos juízes e tribunais, com início a 04 de janeiro de 2025: “Trata-se de uma monitorização individualizada e com suporte informático. O Conselho dispõe já dos programas necessários para o efeito, que estão neste momento em fase testes finais”.

No âmbito do calendário das inspeções regulares aos magistrados – que em breve passarão a contar com mais dois inspetores – será também feito “um acompanhamento individual das situações que o justifiquem” em matéria de produtividade.

Aragão Seia considerou ainda que há, a partir de agora, “uma exigência acrescida e totalmente transparente” para todos os juízes, sublinhando que a área administrativa e fiscal “tem uma dívida para com o Estado e a sociedade no que respeita à efetiva e substancial recuperação de pendências”.

“Conhecidos os objetivos, as regras e as metas é necessário que cada juiz repense, se necessário, o modo como desenvolve a sua atividade. As semanas que restam deste ano civil e a quadra que se avizinha são, em si, propícios à introspeção, a formular propósitos para o novo ano. Será também um tempo importante para refletir sobre o trabalho e a forma como se deve incrementar a produtividade, com organização, com método, com criatividade, com eficácia de ação e se me permitem o conselho, com colegialidade saudável em vez de individualismos tóxicos”, apontou o presidente do STA.

Aragão Seia defendeu ainda ser desejável que, sobretudo na primeira instância, os juízes estejam fisicamente nos tribunais, referindo-se a “um uso incorreto” do regime de isenção de horário, alertando que “os tempos atuais são particularmente exigentes no plano ético” e que “os comportamentos desviantes e pouco éticos são com facilidade publicamente notados e têm repercussões graves para todos”.

Nada disto foi bem recebido pela ASJP, que em comunicado “repudia veementemente que a solução para os problemas apontados à jurisdição passe pelo aumento da sua produtividade, totalmente desacompanhada de medidas concretas para a obter, e a qual nunca poderá fazer-se à custa da qualidade das decisões com que a mesma serve os cidadãos”.

A ASJP, que enumera um conjunto de falta de recursos humanos e materiais que justificam as dificuldades sentidas na jurisdição, sublinha que “incumbe ao CSTAF [presidido por inerência de funções pelo presidente do STA] prover por estas condições, cabendo-lhe assumir as suas responsabilidades, ao lado dos magistrados que todos os dias nela se empenham, de forma a servir a comunidade e a justiça”.

“A ASJP considera importante salientar que os problemas apontados à jurisdição não se relacionam com a falta de produtividade dos magistrados que a integram – o que se evidencia claramente mediante a verificação de taxas de resolução processual consistentemente acima dos 100%, desde o ano de 2016, coincidente com o início do recrutamento regular”, lê-se no comunicado hoje divulgado.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

Ver todos os artigos

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Qual o valor que gastou ou tenciona gastar em prendas este Natal?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas