As contribuições de doadores para a resposta humanitária ao redor do mundo caíram drasticamente este ano, “como nunca antes”, lamentou hoje o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertando para o impacto direto junto das populações mais necessitadas.
Apesar de terem sido feitas recentemente reformas no sistema humanitário visando uma ação mais rápida e fiável, reduzindo a burocracia da coordenação e integrando as cadeias de abastecimento, essas mudanças não terão efeito caso não sejam feitas doações, sublinhou.
“Hoje, o sistema humanitário enfrenta o seu maior desafio”, afirmou o líder da ONU, num evento de alto nível para contribuições ao Fundo Central de Resposta a Emergências para 2026.
“Nem o motor mais eficiente funciona sem combustível. Em 2025, as contribuições dos doadores caíram drasticamente – como nunca antes”, assinalou.
De acordo com o antigo primeiro-ministro português, as contribuições projetadas para este ano deverão ser as mais baixas desde 2015, “uma tendência perigosa que enfraquece a nossa capacidade de resposta”, admitiu.
Como resultado, inúmeras pessoas morreram, outras passaram fome ou ficaram sem serviços de saúde, abrigo e proteção, explicou.
“Este é um momento em que nos pedem para fazer cada vez mais, com cada vez menos. Isto é simplesmente insustentável”, frisou António Guterres.
O Plano Humanitário Global, que engloba a ONU e outros parceiros humanitários, estimou que precisará em 2026 de 23 biliões de dólares (19,7 mil milhões de euros) para chegar a 87 milhões de pessoas em situação de extrema necessidade.
Dentro desse esforço mais vasto, o Fundo Central de Resposta a Emergências da ONU (CERF, na sigla em inglês) é um fundo flexível de resposta imediata.
Desde 2006, o CERF forneceu quase 10 biliões de dólares (8,6 mil milhões de euros) em assistência vital em mais de 100 países, trabalhando com mais de 20 agências da ONU e centenas de parceiros, chegando a dezenas de milhões de pessoas todos os anos.
“O CERF funciona porque é rápido, flexível e justo, chegando muitas vezes antes de outras fontes de apoio”, lembrou hoje Guterres, dando como exemplo o início da guerra na Ucrânia, onde o CERF agiu numa questão de horas, e no Bangladesh, onde libertou fundos em apenas 16 minutos após os primeiros alertas de inundações, permitindo aos trabalhadores humanitários entregar dinheiro, água e alimentos antes de as estradas serem bloqueadas.
“Ao criar o CERF, há vinte anos, a comunidade internacional fez uma promessa simples: quando ocorrer um desastre, a ajuda chegará. (...) Hoje, peço-vos que renovem essa promessa: contribuam para o Fundo Central de Resposta a Emergências. Mantenham a esperança viva para milhões de pessoas que dependem de nós”, apelou Guterres.