MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

PALAVRAS APENAS

11/04/2023 08:00

Perco, às vezes, o meu olhar nas paisagens e deixo que algumas coisas habitem em mim. Perco-me na beleza das coisas mais iluminadas, agora, que é primavera. Perco-me na beleza que me rodeia: a das pessoas, a da natureza, a das casas, a da arte, a da poesia, a da vida.

Apetece-me, hoje, falar desse mistério que é contemplar, num tempo em que a velocidade me lembra sempre o verso de António Gedeão (já o citei tantas vezes!), «Tudo é foi», Apetece-me entrar no segredo da beleza e deixar que ela me mostre o outro lado do caminho: o que tem flores plantadas na berma, o que tem vista para os campos de trigo, o que tem uma varanda sobre o mar, o que tem (ainda) alguma esperança.

Diz Pablo d’Ors, num livro que ando a ler, que «a beleza só chega para os que a esperam». Para isso, é preciso parar para contemplar. Esperar. Sem mais. Sem a necessidade de interpretar, porque isso é função dos historiadores e dos críticos de arte. Olhando, apenas, deixando que o visível trabalhe, em nós, o invisível e nos ensine a gratidão.

O mistério da contemplação está no facto de envolver todos os sentidos: olhar significa ver com os olhos, com os ouvidos e com as mãos e implica perder-se na descoberta deste caminho que tem cheiros e sabores, que tem saberes e memórias. De nada me serve saber de pintura se o quadro não entra em mim ou da composição da água do mar, se o infinito azul que vejo da minha janela, não tem nenhum efeito no modo de sentir a minha pequenez.

Peço-lhe, hoje, então, que se sente comigo, no chão destas palavras e me ajude a olhar. Afinal (lá vou eu roubar ideias), "o olhar é um voo que nos leva" (José Luís Peixoto) e o mistério está ao alcance da nossa vontade.

Paramos juntos? Vamos deixar (só um bocadinho, porque a vida não é branda) que a beleza habite em nós. Talvez o resto fique mais bonito.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

Ver todos os artigos

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda com a entrega do Prémio Nobel da Paz a Maria Corina Machado?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas